Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 11, 2007

Getúlio vive

Início de ditadura é data a ser lembrada apenas como lição, para que a História não se repita.

Assim é com o Estado Novo, inaugurado há 70 anos por Getúlio Vargas, tendo debaixo do braço uma Constituição, apelidada de Polaca, nascida da pena do jurista ultraconservador Francisco Campos, o Chico Ciência, que se colocaria a serviço do autoritarismo novamente em 1964.

Apesar da popularidade de Getúlio em certos círculos ainda hoje, ali, em 10 de novembro de 1937, a democracia teve um curto-circuito e abriram-se os porões para a tortura de adversários políticos, foram às redações os censores, a liberdade de expressão e os direitos civis sofreram um apagão — como em toda ditadura, independentemente da ideologia que professe, em nome do que ou de quem seja.

Personagem complexo, Getúlio Vargas, como ele próprio escreveu na carta-testamento, saiu da vida e entrou na História. E como? Primeiro grande “pai dos pobres” da política brasileira, teve o mérito de permitir a organização das massas trabalhadoras, mas, sob influência do nazi-fascismo, atrelou-as ao Estado.

Teve, ainda, a percepção de que o país necessitava de uma indústria de base (aço, etc.), porém escolheu o Estado como carro-chefe desse processo.

Foi tão forte a presença de Vargas na vida pública entre o final da década de 20 e os anos 50 que sua influência é palpável até hoje. E todos que o bajulam, interessados em colar na imagem populista do caudilho, esquecem providencialmente do ditador do Estado Novo, da polícia de Filinto Müller, do DIP, do namoro com o Terceiro Reich — entre outras mazelas varguistas.

Fernando Henrique Cardoso assumiu em 1995 com a promessa de enterrar a herança varguista. Não conseguiu por completo. Mas avançou, para o bem do país, ao privatizar estatais ineficientes, algumas vindas de Vargas; e também ao conseguir fazer alguma reforma na administração pública — infelizmente, em retrocesso. Esbarrou, ainda, na forte resistência dos que se beneficiam da CLT — outra herança maldita daqueles tempos —, e não pôde rever essa legislação arcaica.

Com Lula, o espectro de Vargas ficou mais visível. Desde o caudilho gaúcho, ninguém conseguiu uma ligação tão direta com o lumpesinato como o atual presidente. O lulismo seria primo-irmão do getulismo.

O espectro ficou mais presente com o inchaço do Estado no atual governo. Até mesmo a legislação trabalhista de Getúlio, combatida por Lula e companheiros no passado, tornou-se motivo de defesa encarniçada no Congresso, por parte do governo e sindicatos.

Getúlio vive, portanto. Mas que ninguém esqueça que ele protagonizou a ditadura do Estado Novo

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