Derrotas inexplicáveis, apostas milionárias em
azarões e casos confirmados de oferta de suborno
tumultuam o mundo dos tenistas profissionais
Alexandre Salvador
Kai-Uwe Knoth/AP |
Flávio Saretta O melhor tenista brasileiro: ele recusou uma oferta de 100 000 euros para entregar uma partida |
O tênis, chamado de "o esporte branco" por sua reputação de cavalheirismo, está hoje mais próximo do submundo do crime. Na semana passada, um canal de TV alemão exibiu uma entrevista com um tenista profissional não identificado que afirmava saber de várias partidas cujos resultados foram fraudados em benefício de apostadores. Flávio Saretta, 157º do ranking (a melhor colocação entre os brasileiros), segundo conta sua assessora de imprensa, Daniela Giuntini, recusou uma proposta de 100.000 euros para perder uma partida de Roland Garros em 2006. Outros que admitiram ter recebido propostas semelhantes foram o inglês Andy Murray, o austríaco Werner Eschauer e os franceses Arnaud Clement e Michael Llodra. Em geral, as ofertas são feitas em ligações telefônicas anônimas dias antes de uma partida decisiva. A recompensa pelo jogo fraudado é sempre bem maior que o prêmio pago ao vencedor da competição.
O escândalo das partidas arranjadas começou com a derrota do russo Nikolay Davydenko para o argentino Martín Vassallo Argüello, em agosto. Davydenko desistiu da disputa, queixando-se de dores no pé. A suspeita surgiu depois que a casa de apostas inglesa Betfair registrou 5 milhões de euros em palpites para a partida, a maior parte a favor do azarão argentino. Quando Davydenko abandonou a quadra, a Betfair cancelou todas as apostas. No mês passado, Davydenko foi multado em 2.000 dólares por "falta de esforço" na partida em que foi derrotado pelo croata Marin Cilic. Davydenko cometeu dupla falta (errou os dois saques a que tinha direito, perdendo o ponto) dez vezes seguidas, algo inadmissível para um profissional.
A Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) exige agora que os jogadores avisem com antecedência de dois dias a possibilidade de abandonarem uma partida devido a lesões. A ATP também investiga mais de 150 jogos por suspeita de fraude, incluindo um vencido pelo brasileiro Gustavo Kuerten, o Guga, em fevereiro, no Brasil Open. "O tênis é um esporte muito fácil de manipular, porque depende da vontade de um único jogador, e isso acontece com freqüência há pelo menos doze anos", disse a VEJA o americano Michael Franzese. Ex-membro da Máfia italiana que fazia fraudes em apostas, ele hoje assessora a ATP.