Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 11, 2007

A era das bolhas globalizadas

Dois presidentes de grandes grupos financeiros já caíram - Charles Prince, do Citigroup, e Stan O?Neil, do Merrill Lynch - e outros poderão despencar nos próximos dias ou semanas. Carreiras até há pouco tempo vitoriosas serão marcadas pelos prejuízos de muitos bilhões de dólares impostos a multidões de acionistas e investidores. Como se temia desde o começo, vários gigantes do setor financeiro, incluído o maior banco europeu, o suíço UBS, foram atingidos pela turbulência iniciada, no meio do ano, com a crise do mercado americano de hipotecas. A devastação foi muito além das pequenas e médias instituições especializadas, postas a serviço, nesse episódio, de entidades muito maiores e com uma velha reputação de segurança. Boa parte do mistério se dissipou e muitas suspeitas foram confirmadas, mas o tamanho do estrago ainda não é conhecido. Enquanto não se completar o balanço e não forem lançadas todas as perdas, a inquietação permanecerá e as condições de crédito continuarão apertadas.

Por enquanto, a economia americana continua vigorosa, como indicam os últimos números divulgados pelo governo, mas o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, já fala em uma desaceleração que estaria em curso. A maioria das projeções aponta para uma economia global menos próspera em 2008. Índia, China e outros emergentes poderão continuar em crescimento e, de modo geral, o próximo ano ainda será satisfatório, se a crise do sistema financeiro não tiver desdobramentos muito piores que os esperados neste momento. Mas ninguém pode estar seguro num ambiente de bolhas e de especulação com ar.

A globalização das finanças criou oportunidades quase inimagináveis de apoio à produção e ao crescimento econômico na maior parte do mundo. Mas criou, também, condições para especulação e para desastres de inédita extensão. A regulação bancária foi aperfeiçoada, principalmente graças à adoção de regras elaboradas no Banco de Compensações Internacionais, de Basiléia. Mas os controles nunca foram tão bons quanto precisariam ser e, além disso, parte do sistema financeiro ficou fora da regulação.

Os próprios bancos têm falhado na avaliação de riscos e suas falhas têm sido regularmente endossadas pelas agências de classificação. Nenhum dos grandes desastres do passado recente, desde a crise mexicana de 1994-95, foi inesperado. Nesse episódio, como no da Ásia, em 1997, e em todos os seguintes, os dados necessários para o alerta sempre estiveram disponíveis e ao alcance de qualquer pessoa bem informada.

Alguns acidentes decorreram da imprudência financeira de governos. Outros foram produzidos pelo estouro de bolhas especulativas, como a do episódio famoso da "exuberância irracional" denunciada por Alan Greenspan, ainda na presidência do Federal Reserve.

Bolhas têm sido freqüentes, em vários mercados, e nenhuma explodiu, até agora, antes de uma porção de alertas, em geral desprezados por quem decide as políticas de investimento nas instituições financeiras. No caso do subprime, isto é, das hipotecas imobiliárias de baixa qualidade, os muitos avisos começaram a soar há mais de um ano.

O próprio Greenspan - mas não só ele - chamou a atenção, mais de uma vez, para a excepcional valorização dos papéis negociados na Bolsa de Xangai, alertando para o risco de mais uma bolha estourar. O alerta para o risco de uma bolha foi repetido por especialistas, nessa semana, depois do lançamento das ações da PetroChina. Lançados com o preço de 16,7 yuans, os papéis estavam cotados a 43,96 yuans no fechamento do pregão, com 166% de valorização. Assim, o valor de mercado da empresa chegou a US$ 1 trilhão, mais que o dobro do valor da Exxon Mobil, de US$ 488 bilhões. A receita da PetroChina é cerca de um quarto daquela registrada pela americana.

Curiosamente, a aversão ao risco, uma das palavras mais conhecidas do jargão financeiro, tem sido pouco mencionada quando se formam e se expandem as bolhas. A aversão só se tem manifestado depois de cada estouro, quando os investidores juntam as sobras de suas aventuras e tratam de aplicá-las em papéis de primeira linha, como os títulos do Tesouro americano. Para mobilizar o dinheiro, vendem papéis de alta liquidez. Com freqüência, são papéis de países em desenvolvimento sem relação com o estouro da bolha. Não importa: não especularam, mas pagam pela imprudência dos outros.

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