O Estado de S. Paulo |
13/11/2007 |
Não há gente mais cautelosa e cordial que os petistas quando estão por baixo e precisam do adversário para alguma coisa. Da mesma forma, não há gente mais imprevidente e arrogante que os petistas quando se sentem fortalecidos e auto-suficientes para tripudiar sobre os outros. Desse mal padece junto com seu partido o presidente da República. Luiz Inácio da Silva outro dia mesmo falava em “dar uma surra” nos oposicionistas na próxima eleição. Pois é o mesmo que agora faz “uma social” com o PSDB, na tentativa de restabelecer negociações com o partido e aprovar a CPMF sem o desgaste do fisiologismo e ainda levando os dividendos em todas as pontas: para a base mostra que dispensa pressões e para a população demonstra que nem a oposição resiste aos seus encantos. Na estratégia de aproximação, cabe de tudo: desde concessões de mérito nas compensações tributárias até a ordem unida (tardia) para negativas contundentes sobre as idéias de terceiro mandato, incluindo agora a idéia de cancelar uma programação em Caracas, em dezembro, para evitar aparições de Lula ao lado de Hugo Chávez. Junte-se a isso a conduta extremamente cautelosa dos petistas, sendo em alguns casos de muitas homenagens ao PSDB, cujo presidente de honra, Fernando Henrique Cardoso, de repente parou de ser alvo das constantes ironias do sucessor. O conjunto da obra poderia indicar à oposição um caminho razoavelmente seguro para negociar, não fosse a desconfiança de que, aprovada a CPMF, voltasse tudo ao que a antiga musa sempre cantou, ficando a oposição com os ônus e o governo com os bônus, pois enquanto aquela carece de porta-voz para capitalizar e trombetear seus feitos, este tem em Lula o arauto perfeito e popular para a divulgação das versões de seu interesse. Daí a resistência do PSDB em retomar institucionalmente as negociações e a hesitação do presidente do partido, senador Tasso Jereissati, em aceitar o convite feito pelo presidente Lula para ir conversar em palácio. Da última vez em que lá esteve, levado pela líder do governo no Senado, Roseana Sarney, Jereissati sofreu toda sorte de críticas dentro do partido que em dez dias deixará de presidir, para dar lugar ao senador Sérgio Guerra. A situação era diferente, não havia uma pauta definida e os tucanos desconfiaram que o senador foi ao encontro para conversar questões de interesse do Ceará. Desta vez a agenda é objetiva: CPMF e os limites de tolerância do partido para negociar ao menos o não fechamento de questão, de forma a deixar ao governo espaço aberto para conseguir alguns votos pontuais na seara tucana. Nesse cenário de suspeições - de parte a parte, diga-se - é de se perguntar por que ambos os partidos (ou suas cúpulas) iniciaram negociações que acabaram por voltar à estaca zero. À primeira vista, padeceram ambos de precipitação e autoconfiança. O primeiro equívoco foi tratar os respectivos partidos (no caso do governo, todos os aliados) como se fossem legendas diferentes na Câmara e no Senado. Com maioria governista segura na Câmara, governo e oposição consideraram dispensável uma negociação conjunta. O governo ganharia de qualquer jeito - com o jeito de sempre -, prescindindo da oposição. Esta adotou a mesma lógica, fazendo o jogo duro regulamentar sem provocar maiores preocupações nos governadores do PSDB favoráveis à CPMF. Conclusão: quando o assunto chegou ao Senado, a gente bronzeada da oposição e da situação resolveu mostrar o seu valor. Daí o segundo equívoco: imaginar que a base aliada estava pacificada em seus anseios e que a oposição responderia de acordo com as demandas da direção e dos governadores tucanos. No fundo, ambos são resultado do mesmo defeito de funcionamento dos partidos: ausência de vida partidária vigorosa e prevalência dos comandos das direções sobre a vontade das bancadas no Parlamento, suas partes visíveis no julgamento externo dos atos dos partidos. País sério De uma tacada, o presidente espanhol, José Luiz Zapatero, e o rei Juan Carlos deram dois exemplos irretocáveis na cerimônia de encerramento da Cúpula Ibero-Americana, sábado, no Chile. Ambos enquadraram Hugo Chávez nos bons costumes. O rei, com a veemência exigida pela ausência de limites do venezuelano, mandou que se calasse. O presidente, com a visão de que governa para todos, amigos e inimigos políticos, alertou-o para que tivesse respeito por seu adversário, José Maria Aznar, ex-presidente e adversário de Zapatero, a quem Chávez chamara de “fascista”. A Espanha, que sofreu décadas sob o fascismo de verdade do ditador Franco, preza a seriedade, não tolera a leviandade e dá-se ao respeito. Alguém, há muito tempo, precisava ao menos deixar claro ao ditador da Venezuela que seu arroubos não são engraçados, são ofensivos, inadequados e extrapolam os limites das boas relações internacionais |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, novembro 13, 2007
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