Foi no vai-da-valsa, votando contra na Câmara porque sabia que a maioria do governo lá é intransponível, e negociando no Senado, onde as dificuldades do Planalto sabidamente abririam espaço para o diálogo.
Mas, aí é que está: diálogo em que termos, para chegar aonde e com qual posição conjunta?
Não tendo discutido antecipadamente o tema, o PSDB não dispõe de um rumo, não estabeleceu o critério de conduta partidária a ser adotado e agora, em cima do lance, hesita em discutir o assunto para não expor publicamente a divisão interna já devidamente pública.
Nada que não aconteça em outros partidos - todos mais ou menos gelatinosos, carentes do hábito do debate interno, sempre referidos nos interesses (não raro conflitantes) de seus grupos. Mas no caso do PSDB, que tem um projeto presidencial no horizonte próximo, passos em falso decorrentes de rachas podem ser fatais.
Hoje a situação é a seguinte: os deputados federais e parte dos senadores preferem que o partido sustente a posição contra adotada quando da votação na Câmara. Esse grupo põe à frente de todas as questões a preservação da identidade (ou do que resta dela) oposicionista do PSDB.
Os pragmáticos vão além, argumentam que não seria eleitoralmente hábil contribuir para uma receita de R$ 120 bilhões nos próximos três anos, fornecendo a Lula instrumentos adicionais para a manutenção de sua popularidade em alta.
Outra ala, integrada pela maioria dos governadores e boa parte dos senadores, teme a perda de verbas federais sem o dinheiro da CPMF, não quer ficar sem ele no futuro, caso volte ao poder, e vê na negociação a oportunidade de passar à sociedade a imagem de "lutador" por mais recursos para a saúde e redução de outros impostos.
Além disso, e isso não é dito, os pré-candidatos à Presidência da República, José Serra e Aécio Neves, não dão grande importância a afirmações de identidades oposicionistas porque não acham que a campanha da sucessão terá como tema central o ataque ao presidente Lula. Na realidade, não querem briga com os índices de popularidade dele.
Sendo assim, a preocupação com a reunião da Executiva Nacional do PSDB marcada para hoje é com a possibilidade de ela acabar produzindo uma ruptura interna de concepções exibida pela parte visível do partido, que são as bancadas no Parlamento.
O deputado Gustavo Fruet diz o mesmo de uma forma mais amena: "O risco é de acabarmos gerando uma dificuldade de relacionamento lá na frente."
Fruet não é contra negociações com o governo, mas acha que o partido errou no tempo e na forma. "Essa discussão teria de ser aberta antes. Agora, para quem vê de fora a cena é a seguinte: o PSDB criou dificuldade na Câmara e vende facilidade no Senado."
Na opinião dele, se a proposta a ser feita pelo governo for aceitável e os termos postos pelo PSDB negociador considerados exeqüíveis, não haverá jeito: cada qual votará de acordo com a sua opinião. O fechamento de questão só entrará no cenário se não houver acordo.
E a discussão sobre o terceiro mandato de Lula, influi nas negociações da CPMF?
"De verdade? Não, ninguém está dando muita importância ao tema agora. O mais importante é o equilíbrio de forças internas a ser definido na convenção para escolher a nova Executiva, daqui a 15 dias."
O risco
Em princípio, parece um plano perfeito para os interesses de tucanos e petistas a idéia de acabar com a reeleição e instituir um mandato de cinco anos já. Daria ao PSDB a chance de conquistar o poder em 2011 e ao PT a oportunidade de voltar com Lula cinco anos depois.
Mas há quem examine o tema com olhos mais descrentes e conclua que, uma vez feito o acerto, Lula jogaria toda a sua força para eleger o sucessor, a fim de, na próxima, concorrer com o PT no poder e não com um partido adversário ocupando a Presidência da República.
O truque
Reportagem da Folha de S. Paulo constatou: no Nordeste, o MST está perdendo ovelhas para o Bolsa-Família. No lugar de engrossar os grupos de invasão e viver das cestas básicas distribuídas nos acampamentos, o pobre opta por sobreviver do benefício.
Aparentemente, é bom para os dois lados envolvidos. Do ponto de vista do governo, o dinheiro sai do mesmo caixa e para os "sem-nada" o risco é muito menor.
Agora, sob o aspecto político, trata-se de uma opção do PT de esvaziar movimentos sociais que lhe causam embaraços legais - tanto sob a ótica do combate quanto da aceitação da ilegalidade do ato de invadir - pela via da cooptação assistencialista.
Trata-se, pois, de um estratagema, não de uma política pública.