Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 16, 2007

A democratização da internet de banda larga sem fio

A rede democrática

Acesso público à internet de banda larga sem
fio começa a fazer parte da infra-estrutura de
capitais e pequenos municípios brasileiros

Mirian Ftchtner
Cristina Butzge e seu laptop no Parque Moinhos de Vento: Porto Alegre é a primeira capital digital do Brasil

Taipé, a capital de Taiwan, tem 2,6 milhões de habitantes e os mesmos problemas de toda metrópole. Na agenda do prefeito, há projetos como a expansão do sistema de transporte público e a despoluição do Rio Danshui, que corta a cidade, além de temas corriqueiros como a gestão da rede de água, luz e esgoto. O grande diferencial da prefeitura local em relação a outras ao redor do mundo passa despercebido aos visitantes. Está no ar. A administração municipal tem sob sua responsabilidade a maior rede pública de internet de banda larga sem fio do planeta. São 4.100 pontos de acesso, que cobrem 90% de sua região metropolitana. Nenhuma outra prefeitura tem algo semelhante. Essa imensa porta de acesso público à internet não está lá por mera comodidade. Ela é tão indispensável na infra-estrutura urbana quanto os postes, os bancos das praças e os canos d’água. Serve a necessidades práticas como o acesso das escolas à rede ou a comunicação entre as repartições públicas. "A criação das vias digitais é tão importante para as cidades quanto foi a abertura de rodovias na primeira metade do século passado", afirma o economista Franklin Coelho, da Universidade Federal Fluminense, especialista em sistemas de acesso público à internet.

No Brasil, essa revolução ainda engatinha. Das 5.564 cidades do país, 3.570 não estão sequer conectadas à rede mundial e apenas 24 têm acesso público sem fio à internet. Até o fim do ano que vem, outros 160 municípios contarão com o serviço. Eles integram o programa Cidades Digitais, do governo federal, que vai investir 40 milhões de reais no próximo ano, com prioridade para municípios com até 50.000 habitantes localizados em regiões pobres. Entre as capitais, as pioneiras são Belo Horizonte, numa parceria entre a prefeitura e o governo federal, e Porto Alegre. Até maio do ano que vem, 90% da capital mineira estará coberta. Em Porto Alegre, onde o programa é bancado pela prefeitura, o acesso está liberado em praças, parques e na região portuária. Graças a isso, a advogada gaúcha Cristina Eliza Butzge, de 29 anos, incorporou a rede municipal a sua rotina. Todo fim de semana ela sai de casa com o laptop para acessar a internet no Parque Moinhos de Vento, na Zona Norte da cidade. "É quando me sinto num país de Primeiro Mundo", diz.

Num futuro próximo, essas cidades poderão contar com serviços que, há poucos anos, eram coisa de ficção científica e hoje são realidade nos países desenvolvidos. Em Houston, no Texas, informações de medidores de energia e água nas residências são transmitidas automaticamente às estações de controle. As ambulâncias em Tucson, no Arizona, enviam dados dos pacientes em tempo real e informam sobre seu estado antes mesmo de estacionar na porta da emergência. Nos Estados Unidos, já são 415 municípios, e o país deverá investir 1 bilhão de dólares nos próximos três anos. Na Europa, não é diferente. Londres transformou seu centro financeiro, o Square Mile, numa grande zona de acesso. O sinal é livre para a legião de turistas e as hordas de executivos que circulam todos os dias pela área. Em Paris, o sistema já funciona em 260 locais, que incluem, claro, os jardins da capital francesa. Em alguns dos principais cartões-postais do mundo, já é possível encontrar o sinal da rede sem fio (veja quadro abaixo).

Há uma razão bastante objetiva para essa disseminação. A maior vantagem dos sistemas wireless (sem fio, em inglês) é que reduzem os custos de investimento nas redes públicas. Pequenas antenas de transmissão são acopladas aos postes de luz ou torres espalhados pelas cidades. Elas eliminam a necessidade de obras para a instalação de quilômetros de cabos de fibra óptica. Isso pode fazer toda a diferença quando, por exemplo, a polícia quer instalar uma câmera de segurança na parte mais remota de um parque ou num estádio de futebol. A tecnologia mais usada é a wi-fi, compatível com a maioria dos laptops e palmtops. E vem daí um enorme benefício aos cidadãos: a possibilidade de usar a internet em parques, praças e ruas com alta velocidade de conexão. Ao ligar um computador numa região coberta, o sinal é detectado automaticamente.

O que se espera é uma mudança completa no modo de lidar com a informação. A procura dos cidadãos pelas redes públicas tende a explodir nos próximos anos, empurrada por novos aparelhos, como o iPhone, da Apple, capazes de acessar tanto a rede de celular quanto a wi-fi. Obter informações pelo celular vai ficar mais fácil do que perguntar o nome de uma rua ao jornaleiro. Diz a americana Esme Vos, fundadora do site muniwireless.com, que reúne informações sobre a internet municipal mundo afora: "As pessoas não querem mais planejar. Preferem consultar mapas e checar o endereço de um restaurante enquanto caminham. E ninguém anda com um laptop aberto pela rua".

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