Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 20, 2007

Controles frouxos


EDITORIAL
O Globo
20/11/2007

Já houve austeridade na administração pública brasileira. Presidentes andavam de Fusca, moravam em prédios modestos. Brasília inaugurou uma nova fase. Era preciso recompensar os "pioneiros". E assim começou um processo que se torna preocupante.

O PT chegou ao poder comprometido com a ética. Muitos fatos ocorridos depois disso rasgaram essa bandeira. E agora se vê a instalação de práticas e costumes que só podem ter um efeito deletério.

Se se alastra, sem reação, a idéia de que cargo público é sinônimo de vantagem, é o próprio miolo da República que vai sendo corroído.

Os fatos estão aí, e se mostram gritantes na série de reportagens que O GLOBO está publicando. Da Presidência da República, veio o sinal do belo carro oficial - Chevrolet Omega, fabricado na Austrália. Ninguém duvida de que o presidente tem direito a um bom carro. Mas por que o exemplo tem de ser imitado, em cascata, pelos tribunais de Justiça, Câmara, Senado?

O funcionalismo público, no Brasil, acabou se tornando uma fonte de privilégios. Chama a atenção o brutal descompasso entre seus salários e benefícios em face do ganho médio do povo brasileiro. Vantagens monetárias extra-salariais compõem 37% dos proventos totais de ministros, juízes, parlamentares e assessores diretos - bem mais do que se registra em nove países latino-americanos analisados em pesquisa do BID/Clad.

As despesas com gratificações por cargos e funções federais ultrapassaram R$13 bilhões no ano passado, conforme dados do Ministério da Fazenda. Como era de se esperar, nesse clima de facilitário, a idéia da mordomia vai descendo de grau em grau, como uma gangrena que se alastra. Já não é só o alto funcionário que se sente com direito a ela. Como explicar, ou justificar, que em 2003 as despesas do gabinete presidencial somassem uma média mensal de R$18,5 milhões, enquanto nos últimos três anos a mesma média alcançou R$29 milhões? O que terá mudado, nesse tempo, para um acréscimo tão vultoso? Mudou a concepção de vida pública. E o pior é que os gastos não apenas aumentam, como se tornam menos transparentes. Mau sinal.

Arquivo do blog