Saúde exportadora
Baseada no pressuposto de que o tropeço do dólar no câmbio interno trabalha para a produção de um desastre comercial, essa gente prevê o pior para acontecer sempre nos próximos meses e, no entanto, não acontece.
O próprio Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), organismo que se tem notabilizado por puxar esse tipo de mantra, admitiu a fragilidade dessas previsões na sua última Análise.
O fato é que ainda não há cadáveres importantes que possam ter sido vitimados pela queda do dólar. Não aconteceu a desindustrialização anunciada pela Fiesp. Nem o sucateamento geral do setor produtivo. Ontem, o Serasa mostrou que, apesar desse dólar, os lucros das empresas são os maiores dos últimos sete anos. Até as exportações de calçados, um dos setores mais atingidos pelo câmbio adverso, estão crescendo neste ano (3,6%).
Os resultados gerais de outubro continuam mostrando um resultado robusto. Nos nove primeiros meses do ano, as exportações aumentaram 16,1% (medição feita pelo critério de média diária). As importações seguem avançando bem mais rapidamente: 29,2%. Mas, nesse ritmo, ainda levarão três anos para alcançar o mesmo nível das exportações.
O impacto do câmbio adverso sobre o resultado comercial não é o que dizem. Neste ano, as exportações só não crescem ainda mais porque parte do excedente que antes era despachado para o exterior está sendo consumido internamente. Não dá para deixar de fora das avaliações o fato de que a demanda interna agregada já cresce entre 7% e 10% em relação ao nível do ano anterior. E essa troca de exportações por consumo está clara no setor de veículos, cujas vendas no mercado interno estão evoluindo neste ano nada menos que 27% (até setembro), enquanto as exportações apontam para queda de 0,2%.
Também deve ser notado que o mergulho do dólar está causando diversificação geográfica das exportações. Nos dez primeiros meses do ano, as vendas para a União Européia cresceram 29% e corresponderam a 24,9% do total (foram 22,4% no ano passado). Em contrapartida, as exportações para os Estados Unidos aumentaram só 0,3% e sua participação no total caiu de 18,3% (em 2006) para 15,8% (em 2007).
O barateamento em reais das importações provocou dois efeitos positivos. O primeiro é o de que está levando a indústria a se reequipar. A entrada de bens de capital está crescendo neste ano nada menos que 32,3%. E quem importa máquinas em geral só traz tecnologia de ponta, o que também ajuda. O segundo efeito positivo é a maior incorporação de produtos intermediários importados no produto exportado, o que tende a manter a competitividade do produto brasileiro, apesar da desvantagem do câmbio. A importação de matérias-primas e produtos intermediários está aumentando 32,6%.
Enfim, os resultados do comércio exterior deste ano continuarão excelentes. As exportações deverão ultrapassar os US$ 164 bilhões e o superávit comercial tem tudo para ficar acima dos US$ 42 bilhões, apenas 8,7% inferior ao de 2006.