O Estado de S. Paulo |
14/11/2007 |
O ministro Guido Mantega já não esconde que está preparando, sim, decisões de política econômica que aumentem a demanda de dólares no País. A maioria dos interessados nessas providências anseia mais pela desvalorização do real em relação a todas as moedas fortes do que só por impedir o afundamento das cotações do dólar. Isso pode parecer sutileza, mas não é. O problema da equipe econômica agora é definir uma linha de ação para quando não houver mais interesse em seguir empilhando reservas. Primeiro, é preciso definir a partir de quando isso deverá acontecer. Segundo, o que fazer quando acontecer. Por enquanto, a formação de reservas é uma operação casada. Trata-se de ter um volume de reservas equivalente ao da dívida externa, hoje de US$ 194 bilhões, aí incluídos os dois passivos, o do setor público e o do setor privado. Como as reservas estão nos US$ 176 bilhões, faltam US$ 18 bilhões para essa equivalência. O custo de formação dessas reservas é conhecido. O Banco Central compra dólares e os aplica em títulos do Tesouro dos Estados Unidos (T-Bonds). Para pagar esses dólares e, ao mesmo tempo, retirar do mercado os reais despejados na compra para que não causem inflação, o Banco Central emite títulos públicos, ou seja, se endivida em reais. Como paga juros mais altos (11,25% ao ano) do que os que recebe pela aplicação dos dólares (cerca de 4,6% ao ano), a formação de reservas implica custo fiscal para o setor público. Nessa tarefa, por enquanto, este é o único custo em que incorre o Banco Central. Pode-se dizer que é um custo baixo diante de outras vantagens que se podem obter com o fortalecimento das reservas. Aqui vão quatro: maior blindagem da economia a crises externas; aumento da confiança na qualidade da economia; antecipação do grau de investimento; e, claro, certo retardamento no processo de valorização do real. Enquanto as reservas não ultrapassarem a dívida externa, o patrimônio público não estará sendo dilapidado pela desvalorização do dólar nos mercados. De 2002 até agora, o dólar perdeu 41% ante o euro e 33% ante o iene japonês. O Brasil até lucrou com isso porque a dívida externa, quase toda em dólares, se desvalorizou na mesma proporção. Mas, se o Banco Central seguir comprando moeda estrangeira, a futura desvalorização do dólar, com que contam tantos observadores, atingirá também o crédito externo líquido do País. É o problema enfrentado pela China, que tem US$ 1,4 trilhão em reservas, a maior parte em dólares. O ministro Mantega já descartou a possibilidade de voltar a cobrar Imposto de Renda nos rendimentos dos títulos públicos adquiridos por estrangeiros. Mesmo se voltasse, seria baixo o impacto na oferta de dólares no câmbio interno. Derrubar os juros internos afastaria eventual especulação, mas seu efeito não iria muito longe e, ademais, a política de juros cumpre a função de combater a inflação e não de regular o câmbio. Uma opção melhor para elevar a procura de dólares parece ser a de deixar crescer e até estimular as importações, o que a indústria abomina. E há essa idéia de formar um fundo soberano para aplicar os dólares fora do País. Mas não está claro de onde viriam os recursos para isso. Confira Bolão - O Morgan Stanley calcula que até o final deste ano o volume total das reservas externas acumuladas no mundo deverá chegar à magnitude dos US$ 6,5 trilhões. A maior fatia - Em agosto, as reservas globais estavam nos US$ 6 trilhões. Desse total, os países da Ásia detêm US$ 3,7 trilhões. A China tem US$ 1,4 trilhão, um pouco mais do que o resto da Ásia. De 80 a 120 - No ano passado, as reservas globais aumentavam à proporção de US$ 80 bilhões por mês. Neste ano, estão aumentando US$ 120 bilhões por mês.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, novembro 14, 2007
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