Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 07, 2007

Celso Ming - Dólar, o enjeitado




O Estado de S. Paulo
7/11/2007

As cotações em dólares do ouro, do euro, do real e de tantos outros ativos vão batendo recordes. Estão no mesmo rali de rejeição do dólar nos mercados. “O que foi até agora uma desvalorização ordeira leva o risco de se tornar uma correção violenta”, advertiram ontem Stephen Jen e Charles St-Arnaud, analistas do Morgan Stanley, de Londres.

Todos os dias, sites, diários e revistas de Economia e Negócios veiculam depoimentos de milionários e dirigentes de corporações que vêm deixando para trás aplicações em dólares para diversificá-las em outras moedas.

Esta crise de confiança tem algumas causas. As mais importantes são os rombos orçamentário, de US$ 163 bilhões neste ano, e das contas externas (conta corrente), que vai para US$ 800 bilhões em 12 meses. São déficits que vêm desde o início do governo Bush, em 2001, portanto não explicam as estocadas das últimas semanas.

Mas o fato detonador foi o estouro da bolha das hipotecas de alto risco, em junho. Cresceu a tomada de consciência das fragilidades do mercado financeiro dos Estados Unidos: bancos comprometidos demais com títulos micados; mercado consumidor muito dependente de fornecimento de poupança externa, especialmente asiática; oportunidades de investimento nos países emergentes mais promissoras do que lá.

Também ficou claro que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) baixou duas vezes seguidas os juros não para garantir a recuperação da produção, mas para apagar incêndios.

A baixa do dólar deveria ajudar na redução do déficit externo e, portanto, na reação da produção e no aumento do emprego. Mas parece ocorrer o contrário. A alta do petróleo e do preço das importações solapa o otimismo dos agentes econômicos americanos, já preocupados com a falta de saída para a aventura do presidente Bush no Iraque.

“Até o Brasil, que até outro dia se atolava na moratória, virou nosso credor”, é o que resmungam observadores americanos, que não deram a devida atenção ao que tem ocorrido na economia fora dos Estados Unidos.

No passado, o Grupo dos Sete países mais ricos interveio nos mercados e mostrou-se capaz de reverter trajetórias não desejadas das moedas. Mas, agora, falta consenso entre os senhores do mundo de que é preciso ação conjunta. O governo americano parece querer um dólar mais fraco e os europeus temem, sim, os efeitos sobre as exportações, mas também vêem o momento como oportunidade para melhorar as condições do euro como moeda global de reserva. E gostam da idéia de segurar a inflação com importações mais baratas em euros.

Ao contrário do que se diz por aqui, o tropeço do dólar não é problema só brasileiro.

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