Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 17, 2007

Ação autoritária

Em entrevista publicada ontem no jornal “O Estado de S.Paulo”, o economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), garantiu que o afastamento de quatro profissionais de linha acadêmica crítica à política econômica do governo não é um “expurgo”. E listou razões administrativas pelas quais Fabio Giambiagi, Regis Bonelli, Gervásio Rezende e Otávio Tourinho foram desligados do Ipea, fato que leva a um outro, também cercado de grande estranheza: o fim do grupo de conjuntura que há anos analisava o cenário econômico, sem se preocupar — como é, ou era, praxe no Ipea — com os governantes de ocasião.

Com um longo passado de pesquisas na área do trabalho, tendo sido secretário de Marta Suplicy na prefeitura paulista, Pochmann, ligado ao PT, não conseguirá convencer facilmente que o desligamento dos economistas não tem qualquer relação com uma mudança grave de orientação do Ipea assim que o instituto passou a se subordinar a Mangabeira Unger, ministro Extraordinário de Assuntos Estratégicos — pelas mãos de quem Pochmann assumiu a presidência do órgão.

Tão mais grave fica o afastamento dos pesquisadores quando se conhece a história do Ipea.

Criado em 1964, no início do regime militar, pelo então ministro Roberto Campos, o instituto se consolidou sob os cuidados de João Paulo dos Reis Velloso — primeiro como seu presidente, depois na condição de ministro do Planejamento, ao qual o Ipea se manteve ligado até a criação de um cargo para abrigar Mangabeira Unger, do partido do vice-presidente da República.

Mesmo nos períodos mais duros da ditadura, Velloso conseguiu manter o Ipea como um centro independente de debates. Tanto que lá trabalhavam, sem restrições, economistas conhecidos por serem de oposição, como Pedro Malan, Edmar Bacha e outros. Sob a direção de Anibal Vilela e Hamilton Tolosa, no final do governo Medici, o Ipea produziu um estudo crítico da economia brasileira — conduzida à época por Delfim Netto —, e que serviu de base ao programa de substituição de importações da era Geisel.

Nem mesmo a ditadura militar afastou pesquisadores por questões ideológicas, como parece ocorrer agora. Confirma-se, então, o viés autoritário de certas áreas do governo, visível nos episódios da Ancinav e do Conselho Federal de Jornalismo.

Tudo indica que algumas forças que atuaram na frente de resistência à ditadura ali estavam não por serem democráticas, mas por visarem apenas ao poder.

Caça às bruxas 1 - E Pochmann está falando de novo...


Caça às bruxas 2 - Ipea não é o primeiro caso de patrulha

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