Com um longo passado de pesquisas na área do trabalho, tendo sido secretário de Marta Suplicy na prefeitura paulista, Pochmann, ligado ao PT, não conseguirá convencer facilmente que o desligamento dos economistas não tem qualquer relação com uma mudança grave de orientação do Ipea assim que o instituto passou a se subordinar a Mangabeira Unger, ministro Extraordinário de Assuntos Estratégicos — pelas mãos de quem Pochmann assumiu a presidência do órgão.
Tão mais grave fica o afastamento dos pesquisadores quando se conhece a história do Ipea.
Criado em 1964, no início do regime militar, pelo então ministro Roberto Campos, o instituto se consolidou sob os cuidados de João Paulo dos Reis Velloso — primeiro como seu presidente, depois na condição de ministro do Planejamento, ao qual o Ipea se manteve ligado até a criação de um cargo para abrigar Mangabeira Unger, do partido do vice-presidente da República.
Mesmo nos períodos mais duros da ditadura, Velloso conseguiu manter o Ipea como um centro independente de debates. Tanto que lá trabalhavam, sem restrições, economistas conhecidos por serem de oposição, como Pedro Malan, Edmar Bacha e outros. Sob a direção de Anibal Vilela e Hamilton Tolosa, no final do governo Medici, o Ipea produziu um estudo crítico da economia brasileira — conduzida à época por Delfim Netto —, e que serviu de base ao programa de substituição de importações da era Geisel.
Nem mesmo a ditadura militar afastou pesquisadores por questões ideológicas, como parece ocorrer agora. Confirma-se, então, o viés autoritário de certas áreas do governo, visível nos episódios da Ancinav e do Conselho Federal de Jornalismo.
Tudo indica que algumas forças que atuaram na frente de resistência à ditadura ali estavam não por serem democráticas, mas por visarem apenas ao poder.