Epitacio Pessoa |
Destroços do jato da TAM em Congonhas: este todo mundo viu |
VEJA publica nesta edição uma reportagem com base no relatório final da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que examinou as causas do "apagão aéreo", o colapso da aviação comercial que tantos transtornos e sofrimentos trouxe aos brasileiros neste ano. Enquanto os aviões se chocavam no ar ou caíam e o tráfego aéreo passava pelo maior caos da sua história, outro desastre, o da corrupção, ocorria longe dos olhos da nação e dos seus mecanismos de vigilância. A CPI acusou fraudes comprovadas em dez grandes obras de aeroportos, especialmente em Congonhas e Guarulhos, em São Paulo, e no Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Com a ajuda de técnicos do Tribunal de Contas da União, da Polícia Federal e do Ministério Público, os parlamentares comprovaram as suspeitas de que funcionários da Infraero, a estatal responsável pela infra-estrutura aeroportuária, receberam dinheiro das empreiteiras.
É difícil traçar uma linha direta entre a corrupção na Infraero e os desastres dos aviões, eventos de múltiplas causas que se combinam para ceifar vidas. Claramente, porém, salta aos olhos que, pelo menos entre os responsáveis pela infra-estrutura dos aeroportos, o cuidado com a segurança e o bem-estar dos passageiros não esteve entre suas prioridades. Os trabalhos da CPI mostram funcionários graduados atarefados em arrancar das empreiteiras das obras o máximo de benefício material para si próprios. Um deles, certo da impunidade, chegou a aceitar um apartamento de propina. Na mesma reportagem, os repórteres de VEJA refletem sobre a resistência da corrupção nas obras públicas. Entre as causas principais está a legislação brasileira falsamente abrangente e coercitiva, mas cuja aplicação prática equivale, em ineficiência, a transportar água em uma peneira. O resultado disso é a quase certeza da impunidade, que funciona como um catalisador e um fator incentivador de novos golpes. O preço do desastre da corrupção apurada pela CPI do Apagão Aéreo: 500 milhões de reais. As vidas humanas perdidas para o desmazelo e a corrupção? Não têm preço.