Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 07, 2007

O valor da estabilidade Mailson da Nóbrega *


Críticos da política econômica afirmam que a estabilidade macroeconômica não garante o desenvolvimento. Faz sentido, mas nem tanto. Outros dizem que a estabilidade é uma conquista e é preciso pensar no desenvolvimento. Não faz o menor sentido.

Em geral, a estabilidade é uma condição necessária, mas não suficiente para o crescimento, o qual depende do investimento em capital físico e humano e de como esses dois elementos se combinem para gerar ganhos de produtividade.

A experiência recente mostra, todavia, que a estabilidade vale mais do que se imagina. Na recente turbulência nos mercados financeiros, ela pode ser um dos elementos que permitirão à economia mundial sair-se melhor do que em situações semelhantes do passado.

Os ciclos econômicos - as flutuações do PIB no tempo, que alternam períodos de crescimento e declínio - não desapareceram, mas podem ter sido atenuados pela maior estabilidade da economia mundial nos últimos anos - a Grande Moderação -, a qual tem assegurado menor volatilidade do emprego, da renda e do produto.

Há muitas explicações para essa novidade, como assinalou a The Economist, mas três são fundamentais: a melhoria no manejo de estoques (que permitiram absorver melhor as quedas de demanda), as inovações do mercado financeiro (que expandiram os mercados de crédito) e a maior sensatez da política monetária (que gerou mais estabilidade). Seus efeitos positivos foram potencializados pela globalização.

A política monetária é a mais importante das três. Ao enfrentar resolutamente a inflação, em especial a partir dos anos 1980, os bancos centrais dos países desenvolvidos (e depois os de muitos países emergentes, entre eles o do Brasil) contribuíram para o crescimento mais estável. Está provado que inflação se torna volátil quando sobe. Mais: inflação errática e flutuações do PIB costumam andar juntas.

No caso do Brasil, o Plano Real teve efeitos muito mais benéficos do que se pensa. São incalculáveis os ganhos de produtividade derivados da vitória contra a inflação. Energias dedicadas à convivência com a alta dos preços foram transferidas para atividades propícias ao crescimento.

A moeda estável recuperou a função do planejamento estratégico das empresas e restabeleceu condições para a concorrência funcionar. Ao lado de reformas microeconômicas, a estabilidade viabilizou um auspicioso ciclo de crédito, agora com a inclusão de segmentos menos favorecidos.

Dado que a estabilidade foi percebida como duradoura, criaram-se as condições para reduzir os juros e expandir o crédito, o que permitiu a vigorosa expansão das vendas de automóveis e outros bens de consumo, com repercussões positivas na renda e no emprego.

Outras reformas viabilizaram o amplo uso da alienação fiduciária de imóveis no financiamento habitacional. Estamos no limiar do mais amplo ciclo de crédito imobiliário da nossa história. Já existem ofertas de empréstimos com prazo de 25 e 30 anos para a casa própria, o que seria impensável há poucos anos.

Depois da crise de 2002, derivada do receio (que se mostrou infundado) de que a eleição de Lula pusesse em ação as equivocadas idéias econômicas do PT, a economia brasileira passou a colher mais intensamente os frutos da estabilidade. Reduziu-se a volatilidade do PIB, formando um ambiente mais propício ao investimento, que vem crescendo em ritmo mais forte desde 2003.

Reformas microeconômicas e bons ventos da economia mundial contribuíram para o atual momento da economia brasileira, mas sem a estabilidade macroeconômica de nada teriam adiantado essas ocorrências. Se a alta inflação tivesse voltado, estaríamos amargando situação exatamente inversa.

Não é preciso muito esforço para condenar a idéia de que a estabilidade é uma conquista que se mantém por si própria. Não existe conquista definitiva. Todas precisam ser mantidas com medidas corretas e persistentes, na guerra, na paz, na vida cotidiana e, no caso brasileiro, na vitória contra a inflação.

Como afirmou o abolicionista americano Wendell Phillips, ''''a eterna vigilância é o preço da liberdade''''. O mesmo se aplica à estabilidade dos preços, cuja preservação depende da eterna vigilância da política monetária, sem concessões ao populismo ou à insensatez.

Arquivo do blog