Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 07, 2007

O Brasil entra na era das redes da banda larga

Ethevaldo Siqueira

As redes de banda larga chegaram para ficar, como provou o Futurecom-2007, maior evento de telecomunicações do País, realizado na semana passada em Florianópolis. Nenhum tema despertou tanto interesse quanto esse, entre mais de uma centena de palestras e painéis. Infra-estrutura essencial para a inclusão digital e para a viabilização da internet móvel, as soluções de banda larga empolgam os defensores de diferentes soluções, como as redes Wi-Fi, Wi-Max, terceira geração (3G) do celular e de fibras ópticas. Segundo a opinião dominante dos especialistas, o grande obstáculo ao desenvolvimento dessas redes ainda é regulatório.

Entre os diversos projetos e iniciativas dessa área anunciados e debatidos nos painéis do Futurecom, estão os novos serviços de acesso de alta velocidade à internet e as redes experimentais de Televisão sobre Protocolo IP (IPTV) operadas pelas maiores concessionárias de telefonia, em espaços não bloqueados pela legislação.

Antonio Carlos Valente, presidente do Grupo Telefônica, anunciou investimentos de R$ 500 milhões nessas redes e em IPTV, em curto prazo. "Dentro de um ano, 90% dos assinantes da Telefônica no Estado de São Paulo poderão dispor de acesso a 1 megabit/segundo (Mbps). Acreditamos também no potencial e no futuro da IPTV. A Telefônica tem na Espanha 450 mil assinantes que recebem televisão via fibra óptica. No Brasil, ainda estamos em testes. Só não prestamos serviços em maior escala porque existem interpretações divergentes sobre a possibilidade de as concessionárias de telecomunicações entrarem no mercado de TV por assinatura."

Para transmitir imagens de boa qualidade de IPTV, a rede precisa ter uma velocidade mínima de 2 Mbps. Hoje, apenas 13% da rede de banda larga da Telefônica tem velocidade superior a 1 Mbps. A evolução tecnológica da IPTV tem sido tão rápida que, em breve, as redes de maior velocidade poderão transmitir até imagens de TV de alta definição.

A Brasil Telecom lançou na semana passada o serviço de IPTV em Brasília. Inicialmente, a empresa oferece somente vídeos sob demanda, que o usuário escolhe e assiste quando quiser, mas tem todas as condições tecnológicas para oferecer uma grade de programação completa, desde que tenha sinal verde da Anatel.

Ricardo Knoepfelmacher, presidente da operadora, diz que, diferentemente de outros países, o Brasil não permite que as concessionárias de telecomunicações entrem no segmento de TV por assinatura.

Para ele, quem perde é o consumidor, privado de ter mais opções de acesso e um conteúdo diferenciado: "Temos a infra-estrutura pronta para oferecer o serviço de TV por assinatura, por meio da banda larga, onde as empresas de TV por assinatura tradicionais não conseguem chegar".

A Oi (ex-Telemar) também anunciou seu projeto de IPTV, que está começando no Rio, segundo o presidente da empresa, Luiz Eduardo Falco.

3G POPULAR

A terceira geração do celular (3G) não é serviço para poucos usuários, de alto poder aquisitivo. Pelo contrário, a experiência mundial prova que a oferta de serviços de alta velocidade via celular 3G tende a tornar-se popular em pouco tempo - afirma Marco Aurélio Rodrigues, presidente da Qualcomm do Brasil. Para ele, os custos previstos e a diversidade de recursos oferecidos pela 3G serão atrativos inteiramente acessíveis às camadas de baixa renda, que poderão utilizar a nova geração não apenas como telefone móvel, mas também como computador pessoal, console de jogos, câmera e filmadora digital. A 3G começará a operar no Brasil já com uma velocidade de 3,6 Mbps, evoluindo gradualmente para 42 Mbps, com investimentos relativamente baixos.

Pedro Ripper, presidente da Cisco do Brasil, confirma a chegada até o fim do ano da nova tecnologia denominada Telepresence, uma forma de comunicação multimídia muito mais avançada que a videoconferência tradicional, que incorpora os recursos da TV de alta definição, maior largura de banda. Os interlocutores são postos em duas salas idênticas, com imagens de escala um para um, com uma mesa que os funde e aproxima visualmente, como numa reunião presencial. A Cisco já tem clientes interessados no produto.

Em seu discurso na abertura do Futurecom 2007, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, fez longo relato de projetos que o governo pretende realizar até 2010 e criticou "os elevados preços do celular pré-pago". Mas não disse que 40% desses preços são constituídos de impostos. Questionado por jornalistas, admitiu que o governo pode reduzir as alíquotas de ICMS, que hoje beneficiam apenas os governos estaduais.

Para Ércio Alberto Zilli, presidente da Associação Nacional das Operadoras Celulares (Acel), o ministro está mal informado sobre a situação das operadoras celulares, principalmente em relação ao pré-pago. "Somente no Brasil há o CSP (Código de Seleção de Prestadora) e são permitidas ligações a cobrar, e a receita média por usuário (Arpu, na sigla em inglês) é uma das menores do mundo", rebate o executivo.

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