Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 05, 2007

Luiz Garcia - Choques




O Globo
5/10/2007

Fiel ao nome, a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo está demorando um bocado para ser criada.
Na primeira versão, proposta em medida provisória que o Senado rejeitou, ela exigiria um inchaço de 626 empregos, com 79 cargos de confiança, na nada esbelta máquina do Executivo. Agora, mudou de roupa e adereços e será ministério extraordinário.

Há diferença, além da troca de apelido: como a lei impede a criação de empregos, a pasta será ocupada por funcionários remanejados de outros órgãos federais. Muito curioso: esse pessoal não fará falta em seus antigos postos? Se fizer, o governo estará provocando ineficiência para beneficiar uma atividade da qual, nestes anos todos, não sentiu a menor falta. Se não fizer, quanta vagabundagem, não?

Quem examinar mais de perto esse capítulo curioso da atual administração talvez encontre outros motivos para estranheza ou pasmo. Como o fato de que o escolhido para comandar o planejamento do governo Lula seja o mesmo professor de Harvard que há dois anos propôs o impeachment do mesmo Lula, acusando o seu governo de ser "o mais corrupto de todos os tempos".

Vai-se ver, o professor não planeja com a necessária prudência o seu próprio futuro a curto prazo. Ou o contrário: ele conheceria o presidente melhor do que muita gente boa.

Mudando o foco da especulação, pode-se deduzir que é Lula quem sabe com quem está lidando. E não se preocupa: afinal, de um homem de Harvard que faz política no PRB, partido da Igreja Universal, e se propõe a ser ministro de um presidente que considera merecedor de impeachment, pode-se esperar qualquer coisa. Inclusive, lealdade em troca de status. A curto prazo, serve.

Enfim, o governo Lula, ensinam os precedentes, parece ser mesmo o ambiente certo para auxiliares dos quais se pode esperar rigorosamente qualquer coisa.

Mas o perfil do novo e certamente extraordinário ministério não deixará de ser motivo de tristeza para o presidente. No novo formato, não haverá contratações. Oba, dirão os contadores de tostões. Uma tristeza, na opinião de Lula.

Outro dia, ele defendeu enfaticamente a tese de que "choque de gestão" (expressão que, a rigor, não significa coisa alguma, mas tem cheiro de coisa positiva) só existe com contratações em massa. A premissa correta é outra, claro: a característica indispensável da boa gestão é a eficiência dos quadros, não a sua quantidade.

Isso tem ficado suficientemente provado nestes anos de ocupação em massa de cargos públicos por militantes das inumeráveis tendências do PT. E já se sabe que o tal choque existe mesmo: cidadãos que dependem da boa gestão dos órgãos públicos federais andam chocadíssimos.

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