Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 05, 2007

Eliane Cantanhede - Jeitão de candidata




Folha de S. Paulo
5/10/2007

O que mais surpreendeu na sabatina de ontem da Folha com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) é que todos esperavam uma técnica e quem surgiu foi uma personagem política, calculadamente política. Acostumada a falar sobre barragens e hidrelétricas, ela até parecia habituada a sabatinas na escorregadia área política. Fez críticas pontuais e ironizou o "choque de gestão" dos tucanos, mas viu méritos no governo FHC. Não condenou a Venezuela de Chávez, mas deixou claro que os dois países são muito diferentes. Não se declarou religiosa nem atéia, muito pelo contrário.
Entre quatro paredes, Dilma xinga e acusa a imprensa de jogar contra o governo, mas, ontem, ela foi cuidadosa. Citou um rosário de dados bons que estão fora das páginas e das telas, mas reconheceu a importância da "crítica" e da diferença entre propaganda de governo e cobrança da mídia.
Ex-militante na luta armada, torturada ainda muito jovem nas masmorras da ditadura, Dilma também escapuliu de exigir retratação pública das Forças Armadas pelos excessos cometidos no passado. Preferiu falar dos registros de tortura e do "futuro", defendendo investimentos na área militar, na defesa.
Em cima do muro quanto à participação decisiva do PT (seu partido desde 2001) no salvamento de Renan Calheiros, ela desceu desse muro para defender o antecessor, José Dirceu, e pediu que o "julgamento não seja político". A quem? Ao Supremo Tribunal Federal.
Declarando-se socialista e contra privatizações, mas a favor da Vale privatizada, a ministra foi incisiva e direta num tema delicado que exige contorcionismos de políticos homens, especialmente de candidatos, e defendeu a descriminalização do aborto. "Uma questão de saúde pública, não de fórum íntimo."
Política é isso: cautela e contemporização, com coragem no essencial. Dilma jura que não é candidata. Mas que parece, parece.

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