Sem esconder certa decepção, o principal grilo falante da economia mundial, Alan Greenspan, vai concluindo que coisas importantes têm escapado do crivo das autoridades monetárias dos países ricos: "Os bancos centrais estão se tornando menos importantes. Perdemos o comando dos mercados de longo prazo e, por isso, nem nós (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), nem o Banco Central Europeu, nem qualquer outro banco central, incluindo o Banco da Inglaterra, conseguiram controlar a extensão mais importante da bolha imobiliária (subprime) com que nos defrontamos."
Greenspan disse isso quarta-feira no World Business Forum, em Nova York. Mas a percepção de que a água lhe vai escorrendo por entre os dedos tem mais tempo. Em 2004, ele considerava um conundrum (enigma) a queda dos juros de longo prazo.
É um termo que ele não usa mais porque aparentemente decifrou o enigma. São outros bancos centrais, especialmente de países emergentes, que vêm se atirando sobre os títulos de longo prazo dos países ricos, para formar reservas. E a forte demanda por esses títulos tem derrubado seu preço, os juros. Isso só ocorre porque esses amontoadores de títulos produzem enormes superávits comerciais (exportações maiores do que importações).
E é nesse ponto que Greenspan desemboca no rombo comercial dos Estados Unidos. Se há superávit nos emergentes é porque há déficit no outro lado da gangorra. Portanto, a origem de tudo está aí: "As bases dos déficits dos Estados Unidos vão se mostrar um grande problema", disse Greenspan.
Na prática, juros de longo prazo achatados, num ambiente de farta liquidez, empurram os aplicadores em direção ao risco. E aí está a origem das bolhas.
A bolha das hipotecas de alto risco dos países ricos acaba de estourar. Agora é uma opção a menos de aplicação para a dinheirama que rola no mundo. Assim, fica inevitável a busca de outros ativos, especialmente ações.
Quer dizer, se as bolsas já vinham esquentadas em conseqüência da abundância anterior de capitais, mais ainda tendem a ficar agora, com o impacto dos recursos que iam para o segmento subprime.
Greenspan não conta tudo, porque seria demais esperar dele uma retratação. Não conta que os mesmos bancos centrais que perderam o controle sobre os juros de longo prazo (especialmente o que ele presidiu por quase 19 anos) vêm contribuindo para a fartura de dinheiro no mundo.
Mais do que isso, justificam a procura por ativos de risco porque, a cada crise, jogam mais dinheiro nos mercados e impedem que as Fúrias imponham o castigo de lei a quem se atirou à farra financeira.
Confira
A indústria de calçados se queixa de que o câmbio adverso derrubou a competitividade do setor. Por isso, não pára de pedir proteção alfandegária. Quando funciona, a elevação das tarifas do Imposto de Importação protege contra o concorrente externo só no mercado interno. Mas não há proteção tarifária para garantir mercado externo.
A São Paulo Alpargatas (Grupo Camargo Corrêa, produtora das sandálias Havaianas), decidiu agir. Aproveitou o dólar barato para comprar a Alpargatas argentina. E vai produzir lá os tênis Nike, Adidas e Topper.
A indústria têxtil, tão reclamona quanto a de calçados, está fazendo o mesmo. A Paquetá vai produzir na Argentina confecções que levam as etiquetas Adidas e Diadora. A Coteminas também está investindo na Coréia do Sul e no Vietnã.
Ninguém controla os ventos. Mas pode-se ajustar as velas.