Jornal do Brasil |
10/10/2007 |
A bactéria do provincianismo agudo infecciona com freqüência as cabeças de políticos transferidos dos grotões onde sempre reinaram para o coração do poder. Os efeitos são condicionados pelo caráter dos portadores. Paroquianos honrados protagonizam episódios espantosos, divertidos ou patéticos. Mas não inspiram medo, não causam estragos de monta, não afetam os cofres da nação. Só provocam risos. Só prejudicam a própria imagem. O perigo mora nos desonestos, sobretudo os que se imaginam contemplados com a licença para pecar - sem limites e impunemente. Na primeira categoria se enquadra, por exemplo, o ex-presidente Itamar Franco. Consumado o impeachment de Fernando Collor, o vice permaneceu dias a fio num quarto em Juiz de Fora, ao lado do leito da mãe enferma - e indiferente à orfandade presidencial imposta a milhões de brasileiros. Portou-se como o filho que toda mulher deseja. E como um chefe de governo que ninguém merece. Apareceu no local de trabalho quando lhe deu na telha. E passou os dois anos seguintes escapulindo de Brasília para instalar-se na platéia do cinema de Juiz de Fora. O sessentão Itamar gostava mesmo era de namorar no escurinho. Aos berros, cobrava respeito dos jornalistas que insistiam em interromper a viagem de volta ao passado. Como se fosse dado a um presidente da República o direito de trocar afagos e beijinhos na matinê de domingo. A segunda categoria tem em Fernando Collor o mais vistoso integrante. Turvados pelo deslumbramento juvenil, pela sensação de onipotência e pela arrogância uterina, os olhos do mais jovem dos presidentes confundiram Alagoas com o Brasil. Deu no que deu. Com o desembaraço dos acima da lei, o prefeito Collor apresentara notas fiscais buscadas no posto de gasolina mais próximo a gastança da véspera no cabaré de Maceió. Com a serenidade dos absolvidos para sempre desde o primeiro choro no berço esplêndido, o governador Collor consolidara a imagem de caçador de marajás enquanto costurava acertos criminosos com usineiros que fingia perseguir. E o presidente Collor achou que o país era Alagoas em escala ampliada. Há pouco, licenciou-se do Senado para descansar da solidão martirizante, constrangedora, impressentida. Voltou com a expressão do redimido pelas urnas. Descobriu que exibe na testa o anátema irremovível. Não é convidado para jantares. Não consegue companhia para o cafezinho. Melhor refugiar-se na província, percebeu em poucos meses de mandato o senador que, eleito presidente aos 40 anos, morreu de provincianismo prematuro. Desse mal também vai morrendo Renan Calheiros, outra alma escurecida pelos usos e costumes da província. A família Calheiros atravessou décadas trocando chumbo com o clã dos Omena. A guerra particular matou muita gente. Ninguém foi preso. É compreensível que Renan tenha sucumbido à tentação de escapar do cadafalso atirando. Mirou nos colegas. Acertou no próprio pé. E assim se condenou a envelhecer no degredo em Murici. Daqui a alguns anos, estará contando aos jovens da cidade histórias dos tempos de figurão federal. Se alguém duvidar do que ouve, Renan mostrará o antigo exemplar da revista Playboy que folheia furtivamente nas madrugadas insones. |
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quarta-feira, outubro 10, 2007
AUGUSTO NUNES O degredo em Murici
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