Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 10, 2007

Celso Ming - Sem pé nem cabeça




O Estado de S. Paulo
10/10/2007

Todos temos direito a ter idéias estapafúrdias. O problema está em teimar em colocá-las em prática.

Esse Banco do Sul, cujo documento de compromisso foi assinado segunda-feira, no Rio, por sete ministros de Economia de países sul-americanos, é uma aventura megalômana concebida pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com o apoio de seu aliado argentino, o presidente Néstor Kirchner.

A idéia original era ainda pior do que saiu. Era um banco regional com objetivos misturados: uma espécie de Fundo Monetário Internacional bonzinho, capaz de tolerar atrocidades fiscais de maus governantes, que ao mesmo tempo fosse uma sociedade de benemerência dedicada a projetos sociais.

Até o governo Lula, que tolera os desaforos de Chávez, entendeu a bizarrice. Mas não teve coragem de vetá-la. Contentou-se em mudar sua finalidade principal. Assim, o Banco do Sul nasce para financiar projetos de desenvolvimento na América do Sul.

Por aí já se vê sua inutilidade. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) tem um muque de US$ 101 bilhões para financiar projetos de infra-estrutura nas Américas, mas não consegue emprestar tudo, ou porque faltam projetos ou porque os apresentados são inconsistentes. De mais a mais, hoje não é preciso um banco especial para financiar uma boa proposta. China e Índia, por exemplo, não precisam de banco de desenvolvimento regional. Basta que apresentem uma boa idéia para que os investidores acorram com o necessário.

Mas há outras inconsistências. A primeira é seu baixo nível de capital: apenas US$ 7 bilhões, a ser integralizado em vários anos. Ora, US$ 7 bilhões é o custo de construção de uma hidrelétrica de grande porte. As obras previstas para os sete trechos de rodovias cujas concessões foram ontem leiloadas em São Paulo estão orçadas em alguma coisa em torno dos US$ 10 bilhões.

Não está claro como será distribuído o aporte de capital entre os países-sócios. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que o Brasil "não será o que investirá menos", entendendo-se que será o sócio que enterrará lá a maior parte. Outra anomalia é a de que no Conselho de Administração a decisão será tomada com base em um voto por sócio, sem proporção com a participação no capital.

O ministro das Finanças da Venezuela, Rodrigo Cabeza, adiantou que o primeiro projeto a ser financiado pelo novo banco será o supergasoduto que ligará Caracas a Buenos Aires.

É o governo Lula se agachando diante de um misto de delírio e inconseqüência.

O Fed espera pra ver

Os diretores do Federal Reserve Board (Fed), o banco central dos Estados Unidos, não se constrangeram em admitir que estão operando no escuro.

A ata que descreve o que aconteceu na reunião do dia 18 de setembro, que tomou a decisão inesperada de baixar os juros em meio ponto porcentual, traz duas revelações: (1) ao contrário do que apostou grande número de analistas, não houve divergência sobre o tamanho do corte dos juros; e (2) como não há certeza nem sobre a gravidade da crise nem sobre o impacto da desvalorização do dólar e do aumento do custo da mão-de-obra na inflação, a decisão é esperar por mais clareza nas semanas seguintes.

Segue-se que não há nenhuma indicação do que acontecerá com os juros na reunião agendada para o dia 31. Apesar disso, o mercado comemorou.

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