Coluna - Coisas da Política - |
Jornal do Brasil |
17/10/2007 |
Reduzida em muitos decibéis pela saúde em frangalhos, mas sempre inconfundível, a voz abaritonada ecoou ao vivo - pela primeira vez desde 26 de julho do ano passado - para aplaudir a performance do artista na praça. "Fiquei emocionado ao ver você cantando diante dos restos mortais de Che Guevara para os companheiros de todo o mundo", abriu Fidel Castro a conversa telefônica de 112 minutos mantida no último domingo com o presidente Hugo Chávez. À vontade no estúdio ao ar livre improvisado na Praça Ernesto Che Guevara, em Santa Clara, a 270 quilômetros de Havana, Chávez escancarou outro sorriso. Estava feliz com o andamento da edição especial do programa Alô, presidente, que produz, dirige e apresenta. As edições dominicais costumam festejar os feitos e façanhas do próprio governo. Mas o programa deste 14 de outubro foi concebido para homenagear Guevara, 40 anos depois da morte na Bolívia. Se ficara emocionado com o desempenho musical do visitante, muito mais Fidel ficaria com a continuação da conversa. Animado com o elogio do amigo que, aos 81 anos, controla Cuba há quase 50, Chávez replicou com um falatório que transformaria o mais antigo ditador do planeta no primeiro governante da História a ouvir em vida o que dirão, quando a morte física vier, os oradores escalados para a despedida. "Você nunca morrerá", discursou Chávez com a voz embargada de quem falava já à beira da sepultura. "Você ficou para sempre. Neste continente e nestes povos". A idéia do funeral antecipado deve ter ocorrido a Chávez no encontro que tiveram na véspera. Durou quatro horas, compactadas no vídeo de 17 minutos exibido entre a cantoria e o telefonema. Refletindo no rosto e no gestual os estragos decorrentes da doença, calçando tênis e enfiado num traje esportivo com as cores da bandeira cubana, Fidel está a um passo da eternidade. Mas segue dedilhando a lira do delírio, agora com a convicção sem remédio de quem não tem tempo para mudar de idéia. "As idéias da revolução estão semeadas por toda a América Latina", viajou durante o encontro em Havana. "E as circunstâncias para que brotem são, hoje, mais favoráveis do que nunca". Tanto Fidel quanto Chávez acham que a frase com que Guevara resumiu a estratégia para liquidar a hegemonia dos Estados Unidos - "Precisamos criar um, dois, três, muitos Vietnãs" - não foi coisa de doido. Foi coisa de profeta. "O mundo já está cheio de Vietnãs", decidiu o cubano. "O Iraque é o maior deles", emendou o venezuelano. Por enquanto, porque Hugo Chávez está pronto para transformar a Bolívia num campo de batalha com o qual nem o imaginoso Guevara ousaria sonhar. "Se a oligarquia boliviana conseguir derrubar ou assassinar o presidente Evo Morales, não vamos ficar de braços cruzados", comunicou o homem da camisa grená. Depois de informar que já cuidou do assunto num encontro recente com Lula, sublinhou a ameaça com um recado enigmático: "Saibam que não seria o Vietnã das idéias, mas o Vietnã das metralhadoras, o Vietnã da guerra". A imprensa brasileira concedeu mais espaço ao Dia da Criança, comemorado na sexta-feira, que à edição especial do programa Alô, presidente, tratado com o desdém reservado a molecagens na praça. Parece mesmo conversa de moleques. O problema é que um deles anda comprando armas demais. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, outubro 17, 2007
Augusto Nunes Na praça, o som da lira do delírio
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