Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 17, 2007

Clóvis Rossi - O Brasil em fogo brando




Folha de S. Paulo
17/10/2007

Faz duas semanas, esse excelente analista que é Marcos Nobre, companheiro de página às terças-feiras, mostrava como a política brasileira está sendo mantida em "fogo brando" e assim tende a ficar até 2010.
A manchete da capa de ontem desta Folha mostra que "fogo brando" é pouco. Dizia a manchete: "Remessa de lucro triplica sob Lula" (na comparação com o período FHC, como é óbvio).
Muito bem. No único governo de esquerda que o país já teve, o de João Goulart (1961/64), remessa de lucro era um dos grandes cavalos de batalha que incendiaram a política até o ponto de "queimar" o presidente, derrubado em 1964. Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul e mais incendiário que o próprio Goulart, era um dos que mais atiçava o fogo contra o que considerava espoliação da pátria pelos grupos estrangeiros -uma das figuras de retórica que mais sucesso fazia em palanques.
Hoje, em um governo que parecia de esquerda, mas nunca o foi, a manchete da Folha não vai provocar nem um leve arquear de sobrancelhas à direita ou à esquerda. Os grupos estrangeiros, em vez de "espoliadores", são cortejados pelo governo. Respondem trazendo capitais e fazendo gordas remessas, mais do que no governo que Lula e o PT rotulavam de neoliberal.
Já escrevia há 15 dias Marcos Nobre: "A era Lula consolidou um cenário em que a disputa se dá sobre margens e ritmos de redução da desigualdade sobre um consenso partilhado, que é o da política econômica e do gerenciamento político estabelecidos no segundo mandato de FHC".
Perfeito. A questão seguinte é saber se esse "fogo brando" é bom ou ruim. Confesso não ter certeza, mas desconfio de que seria bom na Suíça, na Suécia, na Noruega e imediações. O Brasil talvez precise de um pouco mais de agitação, no bom sentido da palavra.

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