Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 14, 2007

As incríveis possibilidades da nanotecnologia

Ethevaldo Siqueira


Em 1974, pouca gente deu importância a uma idéia revolucionária, quando a revista Popular Electronics lançou o Altair, primeiro projeto de um computador pessoal (PC) - ainda primitivo, sem sistema operacional e sem monitor, vendido num kit pelo correio, pela pequena fortuna de US$ 400. Alguns leitores especiais da revista, no entanto, embora muito jovens - como Bill Gates, Steve Jobs ou Steve Wozniak - perceberam o alcance revolucionário que o PC viria a ter no mundo. E se lançaram na tarefa de desenvolver tudo que faltava ao computador pessoal.

Algo parecido com esse episódio ocorreu na semana passada, com o anúncio dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física - o francês Albert Fert e o alemão Peter Gruenberg. Na área de materiais, os trabalhos laureados - que utilizaram o princípio da magneto-resistência gigante, para aumentar a capacidade de armazenamento dos menores discos rígidos - constituem o primeiro grande reconhecimento internacional da importância e do impacto da nanotecnologia para o futuro da humanidade.

O melhor exemplo do sucesso desse avanço são os iPods e centenas de outros modelos de dispositivos pessoais, tocadores de música MP3, que armazenam muitos milhares de filmes e fotos. Há até algumas versões com 160 gigabytes (GB).

COISAS PEQUENAS

Neste ponto, é natural que o leitor não-iniciado pergunte: "Mas, a rigor, que é nanotecnologia?" De forma bem simples, poderíamos dizer que nanotecnologia é a ciência das coisas muito pequenas. Ou, mais precisamente, o conjunto de processos e técnicas de miniaturização extrema de componentes e máquinas. Vale lembrar que Nano em grego significa anão. Dessa mesma raiz provém, em português, a palavra nanico, para designar homem de pequena estatura.

Muito além dos minidiscos rígidos dos iPods, entretanto, a nanotecnologia já fornece soluções avançadas para a proteção de superfícies de metais, aumento da precisão de componentes, produção de tintas e pigmentos, e de tecidos e circuitos integrados.

Por maior que seja a lista dessas aplicações, ela é apenas a ponta do iceberg gigantesco que está por emergir, em poucos anos. Não tenha dúvida, leitor, de que a nanotecnologia será responsável por processos revolucionários e de impacto na engenharia de tecidos orgânicos, no mundo das imagens médicas, na indústria têxtil, na fotônica, na eletrônica, na indústria automotiva, na cosmética, na purificação de águas, nos isolamentos térmicos, na conversão de energia, nas interfaces elétrico-neurais e em novas formas de aplicação ou administração de medicamentos (por meio de sistemas de implantes na pele ou via oral, tópicas, drogas injetáveis, intradérmicas e por remoção de toxinas).

Para o físico nipo-americano Michio Kaku, professor do City College of New York, "em dez anos, a nanotecnologia produzirá minúsculos robôs, invisíveis a olho nu, formados de apenas algumas moléculas, capazes de destruir micróbios infecciosos, matar células tumorais uma a uma, patrulhar a corrente sanguínea, remover placas de colesterol de nossas artérias, retirar substâncias nocivas e tóxicas do ambiente, eliminar a fome do mundo pelo cultivo de alimentos baratos, fazer reparos e consertos em nossas células e órgãos, revertendo o processo de envelhecimento".

NANOTUBOS

Até o começo dos anos 1990, a nanotecnologia ainda era considerada ficção pela maioria dos cientistas. Mesmo na visão de especialistas e pesquisadores, construir peças, componentes, máquinas ou robôs de dimensões moleculares não passava de um sonho. Dois fatores contribuíram para transformar aquelas idéias em realidade. De um lado, a criação de materiais com características especiais como os nanotubos de carbono, uma nova estrutura de átomos de carbono, com características extraordinárias. De outro lado, o progresso das técnicas de miniaturização da microeletrônica e da micromecânica, que permitiram a construção das primeiras peças e máquinas com dimensões situadas entre 0,1 e 100 nanômetros.

Um nanômetro equivale a um bilionésimo do metro (ou um milionésimo do milímetro). Outra unidade para medidas atômicas e moleculares, o Angstrom (A), mede um décimo de nanômetro (0,1nm). O termo nanotecnologia foi utilizado e definido pela primeira vez pelo professor Norio Taniguchi, da Tokyo Science University, num artigo publicado em 1974, que tinha o título de "Sobre o conceito básico de nanotecnologia".

A evolução da nanotecnologia está criando um volume impressionante de novas palavras, tais como: nanochip, nanocomputador, nanorrobôs, nanocristais, nanodesastre, nanoeletrônica, nanofiltros, nanomáquinas, nanomanipulação, nanomateriais, nanoterrorismo e nanotubos.

Como era de se esperar, existem no mundo organizações civis que se opõem às pesquisas em nanotecnologia, por temer que seus subprodutos possam se transformar em armas de terroristas ou possam contaminar alimentos, água e o próprio ambiente. Vi em Paris há dois anos uma manifestação de um grupo desses, que se opunha radicalmente aos produtos transgênicos e à nanotecnologia.

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