Na terça-feira, saí do SantosDumont um pouco antes do incêndio e cheguei a Congonhas com umas duas horas de antecedência em relação ao Airbus da TAM que iria provocar o maior desastre aéreo do Brasil ao pousar, matando quase 200 pessoas. Como sempre soube que o risco maior de um vôo era na decolagem e no pouso, não depois da chegada, o acidente me pareceu ainda mais absurdo ao ver que aquelas mortes todas haviam acontecido no solo, onde, em geral, a gente costuma se sentir aliviado, achando que o perigo, enfim, passou. Não voar está ficando tão perigoso quanto voar: basta que você esteja num aeroporto ou perto dele. Mais tarde, horrorizado com as imagens, chocado diante da televisão, não pude deixar de pensar na hipótese do “podia ter sido comigo”.
Qualquer que venha a ser o resultado das investigações, atribuindo a causa a falha humana ou, o que é mais provável até agora, a problemas mecânicos, ficou evidente o que mesmo eu, ignorante em aviação, podia perceber sempre que descia em São Paulo — que Congonhas, cercado por tantos prédios, cada vez mais estrangulado pela malha urbana, não é o lugar adequado para um aeroporto. E isso sem nunca ter ouvido falar em grooving, sem saber, enfim, o que foi exaustivamente demonstrado nesses últimos dias — que não só o lugar é impróprio como também são inadequadas as condições técnicas do próprio aeroporto, que não possui área de escape, que tem pistas curtas (1.940 metros, contra os 4 mil do Tom Jobim), que opera muito além de sua capacidade e cujas obras foram inauguradas incompletas. Mas, precisava de uma tragédia para só aí o governo pensar em corrigir tantas irregularidades? Na volta dois dias depois, sentado na poltrona do meio, olhei para meus vizinhos, uma senhora e um rapaz, assim que o aparelho pousou em segurança.
Trocamos discretos sorrisos de alívio e ele disse: “Estou calmo, porque aqui a gente cai no mar, e não num prédio”. De minha parte, fiquei em dúvida se era melhor morrer afogado ou queimado.
Que tempos!
O gesto cafajeste do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, é ofensivo não só por ser obsceno, mas porque aquela expressão de desforra em meio ao luto do país é um escárnio com as vítimas e suas famílias. Ele e seu assessor de imprensa, Bruno Gaspar, que também deu sua contribuição ao repertório chulo, estavam apenas “extravasando” indignação — desculpou-se depois —, como se qualquer notícia sobre a tragédia justificasse uma manifestação como aquela, em público ou em privado. Em matéria de insensibilidade, achávamos que tudo já tinha sido visto e ouvido. Perto deste último espetáculo, porém, a Marta do “Relaxa e goza” vai figurar na galeria do governo Lula como exemplo de boas maneiras.
Vai ganhar o prêmio de politicamente correta.
Entrevista:O Estado inteligente
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