Clayton de Souza/AE |
Parentes de vítimas do acidente com o Airbus da TAM: perplexidade e impotência |
A pergunta do título, que também é a chamada de capa desta edição de VEJA, resume a perplexidade e a impotência dos cidadãos brasileiros que assistem, há dez meses, ao acirramento da crise do sistema de transporte aéreo do Brasil. Não é uma crise qualquer, dessas que aborrecem durante certo período, para depois sumir na poeira dos anos, sem deixar marcas. Trata-se de uma crise que começou com a morte de 154 pessoas, ceifadas no Boeing da Gol que colidiu com o jato Legacy, e que na semana passada custou a vida a cerca de outras 200, na tragédia com o Airbus da TAM que transformou Congonhas em nome maldito. Nessa contabilidade de horror, morreram crianças e jovens. Morreram profissionais liberais e donas-de-casa. Morreram altos executivos e trabalhadores humildes. A cada dia, está morrendo também a esperança de que os céus do país voltem a ser de brigadeiro. Com um controle aéreo eficiente e moderno, com aeroportos dotados de infra-estrutura adequada e com companhias que, devidamente fiscalizadas, ofereçam toda a segurança e bons serviços aos passageiros.
Foi preciso que mais duas centenas de brasileiros perecessem para que as autoridades se dispusessem a preparar um pacote de medidas para o setor. Pacote amarrado a toque de caixa e ainda ao som do fechamento de caixões. O ceticismo é geral, porque, não bastasse o aspecto de operação tapa-buraco, as autoridades são as mesmas que privilegiaram a construção de terminais ao estilo shopping center, em lugar de melhorar as condições das pistas dos aeroportos. Que permitiram que o sistema de transporte aéreo brasileiro, antes motivo de orgulho, adquirisse contornos africanos – num modelo de regressão jamais visto em nações civilizadas. Que trataram com leviandade e escárnio os graves problemas que se apresentaram ao longo dos últimos meses. Será que essa gente tem conserto? Não haverá punição aos culpados?
Ao contrário do que pensam os ideólogos ensandecidos, voar com segurança, rapidez e conforto não é tratamento de luxo para "as elites". Faz parte do direito de ir e vir de todos os cidadãos. Aqueles mesmos que mofam nas filas dos balcões, dormem nas salas de embarque, se angustiam em vôos inesperadamente perigosos e só não se cansam de perguntar:
até quando?