SÃO PAULO - Em todo lugar do mundo, equipamento público é para ser usado de manhã, de tarde e de noite, faça sol ou chova. Menos, é claro, em condições extremas, como nevascas, tufão, tsunami. No Brasil, não. Há um elevado em São Paulo, um tal de "Minhocão", que fecha à noite, pela simples e boa razão de que passa literalmente ao pé do ouvido de milhares de moradores dos prédios que ficam em seu percurso.
Há um túnel que abre em determinado horário em um sentido e, em outro horário, no sentido inverso. O motorista que não usa esse equipamento todos os dias, a ponto de memorizar os horários, é obrigado a levar no carro, além do mapa da cidade, um "timetable" do túnel, como esses das companhias aéreas (que, no Brasil, aliás, já não servem para nada porque quase nenhum vôo sai ou chega no horário).
Há também um aeroporto em que, quando chove, alguém mede a lâmina d'água na pista. Maior que x, ela é interditada. Parece, em pleno século da tecnologia, índio de filme americano botando o ouvido no chão para "sentir" o tropel dos cavalos do 7º de Cavalaria. O pior, nesse curioso país, nem são essas anomalias urbanas e aéreas. O pior é que todo mundo se acostumou. Ninguém reclama, ninguém nem sequer conta, como piada para estrangeiro, essas histórias do país tropical.
O Brasil raramente enfrenta os problemas; dá a volta neles. Veja-se o caso de Congonhas. Dizem que é seguro. Talvez seja, menos em emergências. Transplante-se para Cumbica a situação do avião da TAM: teria pista suficiente para rodar e rodar até parar de uma vez, mesmo que fosse na grama. Ou para ganhar velocidade até arremeter sem topar com um prédio na primeira esquina. Mas as autoridades preferem reduzir o peso máximo autorizado para aviões, rodeando o toco, em vez de encarar o problema.
crossi@uol.com.br
Entrevista:O Estado inteligente
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