Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 07, 2007

A perseguição a um professor da UnB

A primeira vítima

O professor Kramer é alvo da obscurantista aliança
entre os "racialistas" e o Direito "achado no lixo"


Reinaldo Azevedo

André Dusek/AE
Kramer: UnB no século XIX


A Universidade de Brasília é a vanguarda do retrocesso no Brasil. Há dias, seu site dava destaque a um professor cubano, "100% Fidel Castro", que exaltava as virtudes do planejador Che Guevara, o facínora que matava por um pedaço de pão. A UnB é ainda líder nas ações afirmativas em favor dos negros e na estupidez com que as implementa. Na semana passada, o professor de ciências políticas Paulo Kramer, 50 anos, acusado de "racismo", foi condenado pela direção a trinta dias de suspensão, pena convertida em multa de 1 750 reais. Numa aula, referiu-se a negros americanos como "crioulada".

Na UnB, uma fotografia decide quem tem direito a cota racial – o que já a fez aceitar um gêmeo e recusar o outro, idêntico. Arruaças envolvendo estudantes africanos foram vistas como conflitos de raça. A instituição foi criada pelo antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), um teórico da neomiscigenação, para quem "o surgimento de uma etnia brasileira, inclusiva, passa tanto pela anulação das identificações étnicas de índios, africanos e europeus como pela indiferenciação entre as várias formas de mestiçagem". A sua UnB virou um monstro.

Contra Kramer estão Gustavo Amora, 25 anos, mestrando de ciência política e militante negro – sua pele é só morena –, e o professor Alexandre Bernardino, presidente da comissão de sindicância e expoente do grupo O Direito Achado na Rua, cujo propósito é afrontar o direito tradicional. Amora não gostou da palavra "crioulada", e o professor se desculpou pelo mal-entendido. O aluno voltou ao tema em outra aula, liderando um grupo, aí com um gravador escondido. Kramer chegou a chamá-los de "Ku Klux Klan negra", sugerindo que eles adotavam as mesmas táticas dos racistas brancos dos EUA. Sua conduta foi considerada "indevida". Recebido o parecer, na semana passada, em menos de 24 horas o reitor Timothy Mulholland decidiu a punição. A comissão pede ainda ao Ministério Público que investigue crime de racismo.

Kramer, que não é racista, foi vítima de uma armadilha. Amora já tentou preparar uma outra contra a professora Lúcia Avelar, ação frustrada porque o e-mail em que combinava a tramóia com um amigo foi inadvertidamente enviado a outros estudantes. Foi um linchamento politicamente correto revestido de processo legal. É aí que entra o Direito Achado na Rua. Criada pelo advogado Roberto Lyra Filho (1926-1986), tal corrente entende que o verdadeiro direito é o que nasce dos movimentos sociais. Um de seus seguidores é José Eduardo Romão, diretor do Departamento de Justiça (Dejus), aquele que queria submeter programas de TV a uma forma de censura prévia. O ministro da Justiça, Tarso Genro, já escreveu ensaios para a turma. Num dos textos de referência do movimento, Lyra Filho chama os mestres da área no Brasil de "catedr'áulicos" e "nefelibatas". Emenda: "Nós somos da planície, democrática, popular, conscientizada e libertadora". O Direito Achado na Rua, nascido na UnB, combina-se agora com a militância racialista. Kramer é a primeira vítima. Nessa velocidade, a UnB logo chega ao século XIX.

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