Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 13, 2007

Luiz Garcia - Redentor velho de guerra




O Globo
13/7/2007

Não está aqui quem vai fazer a menor restrição à inclusão do nosso Cristo Redentor entre as assim batizadas "sete novas maravilhas do mundo".

O feito tem duas virtudes consideráveis: a indústria do turismo vai ganhar um dinheirão, o que é bom para a cidade e o país, e a vitória traz alegria para uma cidade e um povo bem precisados.

Mas é possível e talvez necessário encarar a história com, pelo menos, uma pitada de sobriedade. Dois detalhes: primeiro, a escolha não representa a opinião de quem entende de obras de arte. Segundo, não dá para definir como eleição aquela em que cada um votou quantas vezes quis.

Ninguém no Brasil parece saber o que estava na cabeça do pai da idéia, o suíço Bernard Weber - cuja biografia ninguém conhece. Não temos a menor idéia do que ele ganhou com a empreitada. É possível que se trate de iniciativa humanitária, totalmente bem-intencionada e sem visar a vantagem pessoal. Outro dia mesmo, ouvi do Pangloss que há milionários suíços que só pensam no bem da Humanidade.

E é certo que não aconteceu eleição alguma: houve, sim, uma mobilização popular. Quem pôde e se interessou votou quantas vezes quis. E os brasileiros provaram que, além de serem mais numerosos do que gregos ou espanhóis, amam o seu Redentor mais do que eles apreciam Acrópole ou Alhambra.

O choro é livre, e na Europa perdedores estão chiando para valer. Até os franceses, que acham a Torre Eiffel maravilhosa. Por mim, tinha razão quem disse que o melhor lugar para se apreciar a beleza de Paris é do alto da torre: só de lá se pode admirar a beleza da cidade sem aquela horrenda pilha de ferro incluída no panorama.

E ninguém por aqui deu bola para as críticas da Unesco - que, pernosticamente, definiu a eleição como "escolha midiatizada". Quem fala desse jeito costuma ter muitos argumentos e pouca sensibilidade.

Não são lamúrias de uns e críticas empoladas de outros que devem nos preocupar. Só precisamos temer mesmo a possibilidade de que, qualquer dia desses, o suíço atrapalhe nossa festa mostrando ser um vigarista que inventou forma original de faturar em cima do patriotismo alheio.

Mas, mesmo que alguma decepção com o concurso nos espere mais adiante, fique bem claro: o título ajuda a atrair turistas e seus dólares - mas não precisamos de auxílio algum para saber que o nosso Cristo é maravilhoso. Talvez não exatamente como obra de arte. Mas a posição é perfeita; a moldura, inigualável. Literalmente acima de tudo, ele nos dá a sensação de que zela pelo rebanho cá embaixo. Pensem bem: sem ele seria pior.

Por isso, a imagem no Corcovado sempre foi e continuará sendo a nossa maior maravilha. Talvez mais como símbolo do que como obra de arte, e daí? A vitória na promoção do suíço vai ajudar o Rio a faturar dólares de turistas, mas não mudará a relação da cidade com o seu protetor.

Ninguém e nada podem roubar o que sempre foi nosso e nunca perderemos. O Cristo, nosso redentor velho de guerra, estará sempre de braços abertos sobre nossa paisagem e nossas vidas.

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