Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 20, 2007

LUIZ GARCIA Não prendam o temporal

Não prendam o temporal


Pelas informações dos primeiros momentos, a causa quase certa da tragédia de terça-feira era a falta de proteção das pistas de Congonhas contra derrapagens.
Costuma ser a possibilidade que ocorre a pessoas comuns quando veículos pesados perdem o controle em pisos lisos e molhados.

Mas, já no dia seguinte, investigadores oficiais e autoridades levantavam outras hipóteses. Como uma suposta e inexplicável aceleração do avião logo após tocar o solo. Alguns especialistas foram ambíguos: tanto disseram que a falta de ranhuras antiderrapagem não seria a causa do acidente como garantiram que as ranhuras serão imediatamente instaladas.

Talvez o mais sensato seja, por enquanto, não descartar hipótese alguma. Nem erro do piloto ou problemas mecânicos no avião, nem a combinação chuva forte/pista lisa. Mas tem alguma importância não esquecer que a última possibilidade é a mais perigosa para ocupantes de alguns altos cargos no setor.

A propósito, há pouco tempo, a Agência Nacional de Aviação Civil anunciou ter determinado à Infraero a execução de “medidas emergenciais” em Congonhas: nenhuma se referia à proteção das pistas contra derrapagens em dias de chuva.

Será possível que tenham feito uma maquiagem “emergencial” no aeroporto, esquecendo que chove com freqüência naquela região? A hipótese é chocante, mas não surpreende. Ela tem precedentes em penca na confusa história recente da administração dos transportes aéreos no Brasil. Como os abusos e absurdos na área do controle de vôos — problema que só chegou aos olhos e ouvidos da opinião pública com a primeira tragédia, a do avião da Gol.

As dificuldades com os controladores ficaram notórias depois do acidente em Mato Grosso, mas vinham de longe. Nem por isso a Aeronáutica mostrou conhecer formas de enfrentar a situação com eficiência e rapidez. E Lula não ajudou muito: entrou na briga oferecendo doses homeopáticas de energia e porções pantagruélicas de desconhecimento dos problemas.

Adianta pouco pensar nisso agora. O que importa é insistir no essencial: a segunda tragédia na aviação civil em menos de um ano criou clima favorável a políticas e medidas — radicais, se necessário — que devolvam segurança e competência à gestão da aviação comercial.

E o ponto de partida tem de ser descobrir a verdade sobre a tragédia de Congonhas. Tanto as causas imediatas como as remotas. A opinião pública não vai engolir um apressado e simplificador indiciamento do temporal.

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