O Estado de S. Paulo |
11/7/2007 |
Com três deputados, um senador e um símbolo agitador, o PSOL fez, nas últimas semanas, o que todos os outros partidos se abstiveram de fazer: é o autor das representações por quebra de decoro parlamentar contra os senadores Renan Calheiros e Joaquim Roriz, prepara-se para contestar a lisura do mandato do deputado Olavo Calheiros e só espera o suplente de Roriz, Gim Argello, tomar posse para contestar seu direito a tomar assento no Senado. Se ao leitor parece pouco, digamos de outra forma: não fosse o PSOL romper a barreira do compadrio no Parlamento em geral e no Senado em particular, Renan Calheiros seria um presidente do Senado ainda reverenciado e Joaquim Roriz provavelmente ainda estaria de posse de seu mandato. E o que um partido ínfimo, com menos de dois anos de vida, 20 mil filiados, desprovido de base social e dono de um discurso socialista percebido como ultrapassado tem que outras legendas mais poderosas, festejadas, social e politicamente reconhecidas, experientes e eleitoralmente competitivas não têm? Responde numa frase o deputado Chico Alencar, um dissidente que se desligou do PT na segunda leva depois do expurgo que decapitou a senadora Heloísa Helena (o símbolo agitador), e os deputados Luciana Genro, Babá e João Fontes: “Temos autonomia em relação a interesses corporativos arraigados não só no Congresso, mas em toda a sociedade, numa palavra, temos independência.” Logo que estourou o escândalo Calheiros, o PSOL convidou outros partidos - com destaque aí para o PSDB, DEM, PPS e PDT, por serem de oposição - para tomar alguma medida concreta. Recebeu até alguns incentivos, discretos e anônimos, diga-se, mas nenhuma adesão ao primeiro passo, embora PDT, PPS e PV tenham se incorporado quase que de imediato. Quando surgiram as denúncias do empréstimo fraudulento contra Roriz, não estavam mais em jogo as boas relações firmadas e os favores distribuídos pelo presidente do Senado. Para não dizer covardia, chamemos de preguiça o sentimento que paralisou as outras legendas: já que o PSOL se dispunha a contestar o decoro do senador, que o fizesse, embora desta vez com respaldo. Mas a história (curta) do PSOL dentro do Parlamento não é só de vitórias. No início do ano amargou uma derrota quando tentou inutilmente reabrir os processos contra os mensaleiros e sanguessugas reeleitos. Foi derrotado pela tese de que as urnas já os haviam absolvido. É claro que o PSOL não age isolado à frente da batalha - há vários deputados e senadores cujos papéis têm sido fundamentais na confrontação das velhas práticas -, mas, em termos de ação partidária, é ele que vem se comportando como o porta-estandarte das ações objetivas no campo da ética na política. Tal missão, entretanto, é repudiada como eixo central da ação do partido: “Não somos baluartes de coisa alguma. Aliás, não queremos repetir o erro do PT de se apresentar ao eleitorado como detentor do monopólio da boa conduta. O que nos obriga a agir assim é a conjuntura, onde o preceito básico da ética - que não deveria ser plataforma e sim prática incorporada à atuação política - não é observado nem no Congresso nem na sociedade”, diz Chico Alencar. Sim, mas como se aproximar da sociedade, ocupar o vácuo aberto pela oposição incapaz de vocalizar os anseios dos descontentes se o discurso ideológico, algo revolucionário, não seduz a maioria? Sozinho e de organização ainda frágil, o PSOL sabe que não tem como assumir papel preponderante nem conseguirá dar eficácia ao bom combate. O trabalho, portanto, não é personalista nem permite o culto de heróis. Requer a companhia de outros partidos, da classe média, dos estudantes, dos sindicatos e de quem mais estiver interessado em falar de forma diferente e, sobretudo, de despertar os indiferentes. “Sem cair no populismo no afã de conquistar as bases do PT nem acreditar que a necessidade histórica seja de revolução, porque não é.” É de que, então? “Por ora, de compreender que a sociedade só vê a política como um espaço para a ação de oportunistas e que a indignação é positiva, mas não pode levar o País a transpor a fronteira da desesperança. Sob pena de ali se instalar e perder de vez a capacidade de reação.” Confissão O presidente do Senado, Renan Calheiros, não atende aos apelos, diz que não teme ameaças e já mostrou que não se constrange com nada. Não o faz por coragem, mas por força da ousadia dos cínicos. E, em boa medida, porque os tempos de institucionalização dos desmandos, da banalização da incoerência e da celebração da mentira permitem que aja assim. Mas, ontem, durante o bate-boca com o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, piscou. “Se eu tiver culpa, talvez não cheguemos ao plenário (à votação de cassação). Eu reconhecerei a culpa”, disse. Como só ele sabe a extensão da culpa e ele mesmo admite como hipótese a sua existência, eis aberta a brecha na porta de saída. |
Entrevista:O Estado inteligente
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