Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 14, 2007

A dificuldade de recriar espécies extintas

O corpo está intacto.
Mas não dá para clonar


Gabriela Carelli

Os mamutes foram extintos há relativamente pouco tempo, considerando-se a história da vida no planeta. Os últimos espécimes desapareceram há 4.000 anos. Hoje, fósseis desses gigantes pré-históricos são encontrados com freqüência na Sibéria quando se vasculha o chamado permafrost, a camada de terra permanentemente congelada da região. Uma das mais espetaculares dessas descobertas foi anunciada na semana passada. Um bebê mamute, que viveu há 10.000 anos e morreu aos 6 meses de idade, foi encontrado na Península de Yamal. O que espanta os cientistas é o extraordinário estado de conservação do fóssil. O corpo, a tromba e os olhos do mamute, uma fêmea, estão intactos, assim como boa parte do pêlo. "Já encontramos muitas carcaças, mas nada se compara com essa em termos de preservação. Ela não tem defeito. Falta-lhe apenas o rabo", diz o paleontólogo Alexei Tikhonov, diretor do Instituto Zoológico da Academia Russa de Ciências. Para muitos geneticistas, a descoberta do bebê mamute siberiano reacende a esperança de que, no futuro, se consiga criar clones de mamute e de outros animais extintos. Dessa forma, seria possível fazer com que espécies desaparecidas voltassem a habitar a Terra.

O processo para criar clones de animais extintos não seria muito diferente daquele mostrado no filme Jurassic Park, de Steven Spielberg. No caso dos mamutes, o que tornaria possível recriá-los, em teoria, é seu parentesco com os elefantes. Geneticamente, os mamutes são 95% idênticos aos elefantes que vivem na Ásia e na África. Primeiro, é preciso encontrar no fóssil uma célula que possua o DNA intacto. O próximo passo é substituir o código genético original do núcleo de um óvulo de elefanta pelo material genético retirado do fóssil do mamute. A seguir, o óvulo fertilizado é implantado no útero de uma elefanta. "Quanto mais bem preservado o animal, maiores as chances de conseguirmos amostras de DNA intactas e, assim, recriarmos espécies extintas", disse a VEJA Larry Agenbroad, diretor do Centro de Estudos de Mamutes, laboratório independente de Dakota do Sul. A maior dificuldade para clonar um animal extinto está justamente em conseguir uma amostra de DNA intacta. Quando o congelamento se dá em condições especiais, como se faz nos laboratórios, o material genético da célula pode ser preservado indefinidamente. Mas as condições de congelamento nos permafrosts estão muito aquém das ideais – tudo o que se encontrou até hoje foram fragmentos de DNA.

Nem por isso os cientistas desistem. O biólogo Don Colgan, do Museu Australiano, tenta há quase uma década clonar o tigre-da-tasmânia, extinto em 1936. Colgan já conseguiu reproduzir milhões de cópias de fragmentos do DNA de um tigre-da tasmânia morto há 140 anos, mas admite que as chances de ter um clone da espécie são "muito pequenas". A carcaça do filhote de mamute recém-descoberta será encaminhada à Universidade Jikei, no Japão, destino de grande parte dos fósseis congelados encontrados na região do Ártico. Animais bem preservados são a maior fonte de informações sobre como era o planeta no tempo em que eles viveram. Ao analisá-los, consegue-se descobrir o seu tipo de dieta, a fauna e flora locais e as condições climáticas do período. "Nos últimos 3 milhões de anos, houve 27 ciclos glaciais e interglaciais. Uma das poucas formas de desvendá-los é por meio desses fósseis", diz Jefferson Cardia Simões, coordenador do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Ainda não há uma certeza sobre o que provocou a extinção dos mamutes. Uma das hipóteses, levantada em pesquisas, é que tenham sido caçados extensivamente pelo homem. Armados com lanças com pontas de pedra lascada e fogo, os caçadores, ao que tudo indica, acuavam os mamutes até que eles caíssem de penhascos. Até hoje, os fósseis de animais extintos permitiram aos geneticistas apenas iniciar o seqüenciamento do DNA das espécies. O maior especialista do mundo em genética arqueológica, o sueco Svante Paabo, está prestes a seqüenciar o DNA de um exemplar do homem de Neandertal, um parente próximo do homem moderno que desapareceu há 30.000 anos. "O trabalho de Paabo é importante porque permitirá a comparação entre o Neandertal, o homem e os primatas, e assim será possível entender o nosso passado evolucionário", diz o geneticista mineiro Sérgio Danilo Pena. "Mas, por enquanto, a possibilidade de clonar mamutes ainda pertence ao terreno da ficção científica", ele avalia.



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