Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 20, 2007

Celso Ming - O impacto dos juros




O Estado de S. Paulo
20/7/2007

Ainda há muita reclamação contra os juros escorchantes. E, não dá para negar, eles continuam escorchantes, especialmente na ponta do crédito. Pode-se dizer que os juros básicos (Selic) ainda estão entre os mais altos do mundo. Mas não dá para ignorar duas coisas: o avanço alcançado e o impacto positivo que a queda dos juros está provocando na economia.

Em setembro de 2005, a Selic era de 19,75% ao ano. Desde quarta-feira, é de 11,50%. O recuo de 8,25 pontos porcentuais é um bom caminho andado.

Levando-se em conta que a inflação anual está em torno de 3,5%, conclui-se que os juros básicos reais estão em 8,0%, ainda altos, mas substancialmente mais baixos do que os 11,70% em que estavam há apenas 12 meses.

A esta altura, fica difícil sustentar que o mercado financeiro esteja insistindo em especular com juros, ou seja, em tomar recursos emprestados no exterior a cerca de 5% ao ano para reaplicá-los no Brasil a 11,50%. É que, uma vez eviscerados, esses 11,50% se reduzem a apenas uma fração disso. Os juros reais (descontada a inflação), já ficou dito, são de 8%. Sobre esses ainda vai o Imposto de Renda de 22% sobre o retorno bruto, o que os rebaixa para 5,5%. Qualquer investidor externo ainda terá de levar em conta o prêmio de risco, de 1,50%, sobre as operações no Brasil, mais o risco cambial.

Isso não significa que as operações de arbitragem com juros não estejam sendo feitas ou até intensificadas. O importador, por exemplo, que vende no mercado interno um container de aparelhos eletrônicos, pelos quais só vai pagar ao fornecedor 12 meses depois, poderá usar esse crédito comercial para substituir capital de giro que lhe vai custar nos bancos 30% ao ano. Mas isso tem pouco a ver com a Selic.

O impacto mais notório do recuo dos juros acontece nas aplicações em títulos de renda fixa, onde o retorno está cada vez mais magro. O rendimento líquido de um fundo de renda fixa já é de cerca de 3% ou 4% ao ano, porque do retorno real acima exposto, em torno de 5,5% ao ano, ainda é preciso subtrair a taxa de administração dos bancos, que pode ultrapassar 1,5% ao ano.

Isso significa que as aplicações financeiras em fundos de renda fixa tenderão a migrar ou para as cadernetas (que não levam Imposto de Renda nem taxa de administração) ou para a renda variável: ações, fundos de ações ou fundos multimercado.

O terceiro impacto vai na direção da expansão do crédito para a produção e para o consumo. Os juros vêm caindo lentamente na ponta dos financiamentos. Mas a queda dos juros básicos (e da remuneração dos títulos públicos) e essa lentidão da redução dos juros nas operações de financiamento constituem um dos mais importantes fatores que empurram os bancos para o crédito, que cresce a 20% neste ano. E mais crédito significa mais consumo e aumento da atividade econômica, com a vantagem de que, agora, o aumento do PIB vem com inflação suportável.


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