Diria para não ir ao encerramento do Pan e fazer o que gosta quando o bicho pega: fingir que não é com ele
DEPOIS DE passar três semanas fora, cheguei ao Rio dois dias antes da abertura do Pan, pronta para o pior. E tive uma ótima surpresa: o Corcovado arrasando, a cidade surpreendentemente tranqüila e os corações cariocas num astral altíssimo. Ótimo; não é todos os dias que se tem boas surpresas.Aí houve a abertura. Sejamos sinceros: não foi uma grande festa, daquelas que ficam na nossa memória. O espetáculo me fez pensar mais na África.
Acontece, não podemos esperar que tudo seja perfeito. Mas hoje tudo continua indo beleza, as medalhas de ouro nos enchendo de orgulho (e Diogo Silva poderia ser eleito o negro mais bonito do mundo).
Agora, vamos às vaias.
Tudo já foi escrito sobre elas, inclusive que homens públicos têm a obrigação de segurar o tranco.
O que não é admissível é que um presidente da República, com o texto na mão e o microfone na frente, não faça a abertura dos Jogos, como é praxe. E é menos admissível ainda que se retire antes do final.
É imperdoável, de uma falta de espírito público total, e um sinal -mais um- de que o presidente Lula, que se disse "triste" com o fato, não tem condições de ocupar o mais alto posto da nação. Um presidente que se diz "triste" com uma vaia é um vexame total.
Mas a vaia não foi pessoal. Foi contra tudo que vem acontecendo em Brasília, e, se houve quem dissesse que no Maracanã só estava a classe média, pode até ter razão: é quem lê jornais e sabe dos escândalos que acontecem, com a solidariedade do Planalto.
Vamos lembrar só de um: desde o acidente da Gol, não houve uma providência concreta para resolver o problema dos aeroportos.
Não me consta que uma só pessoa que trabalhe em um órgão que diga respeito à aviação tenha sido demitida, e ninguém pediu demissão. Aliás, minto: uma pessoa foi punida. Um controlador de vôo, o sargento Wellington Rodrigues, preso por dar entrevista.
Na noite do dramático acidente da TAM, até meia-noite nenhuma autoridade havia sido encontrada para falar sobre a tragédia.
Segundo a imprensa, os construtores do novo aeroporto de Congonhas privilegiaram o conforto dos passageiros, um mausoléu de mármore à segurança.
Ouvi de umas três pessoas que iam sair de férias que cancelaram suas viagens. Quem tem coragem de tomar um avião nos dias de hoje? Quando vão dar um murro na mesa e ordenar ordem nesse bordel?
Eu apoiaria totalmente uma greve de TODOS os comandantes de TODAS as companhias de aviação do Brasil, parar tudo, parar o país, até que alguma coisa de concreto seja feita.
E aconselharia o presidente Lula a não pisar no Rio para o encerramento do Pan e continuar a fazer o que ele mais gosta quando o bicho pega: ficar trancado nos seus palácios e fingir que não é com ele