Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 08, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS


augusto@jb.com.br
Lula tropeça num verbo

Governar é escolher. Um presidente da República - quase sempre sob pressões dos aliados e bombardeios da oposição - tem de escolher o nome certo para o ministério. Escolher o parceiro confiável. Escolher, entre tantas prioridades, a mais urgente. Escolher a hora exata para o anúncio da decisão: um chefe de governo não pode parecer precipitado, nem hesitante.

FÁBIO POZZEBOM/ABR

Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, por exemplo, fixavam rumos e faziam escolhas com a naturalidade dos estadistas. O mineiro JK, com a exuberância de um gaúcho, costumava decidir a galope. O gaúcho Getúlio, com a prudência de um mineiro, preferia avaliar sem pressa a força e a direção dos ventos.

Os dois cometeram erros, claro. Ambos admitiram que foram induzidos, numerosas vezes, a concessões e recuos recomendados por circunstâncias ou conveniências políticas. Mas o livro de memórias de JK e os diários íntimos de Getúlio demonstram que um e outro sempre souberam o que queriam - e quais escolhas deveriam fazer para antecipar a materialização do sonho.

Só depois de instalar-se no Palácio do Planalto o presidente Lula descobriu o que a dupla de antecessores parece ter aprendido já no berço: mandar e decidir são verbos sem parentesco. O primeiro é prerrogativa de pastor de rebanhos. O segundo é uma das imposições do cargo de presidente.

Lula sempre gostou de mandar, como deixou claro nos tempos de líder sindical e chefe incontestado do PT. Mas ainda na fase de montagem do primeiro governo o Brasil constatou que o presidente não aprecia decidir, sofre para escolher e, freqüentemente, erra na escolha.

Se soubesse escolher ministros, Lula não teria promovido a estrelas do elenco reunido em 2003 futuros protagonistas de casos de polícia, como José Dirceu, Antonio Palocci ou Luiz Gushiken. O tempo não o melhorou: acaba de nomear ministro o inverossímil Mangabeira Unger.

Se soubesse escolher parceiros confiáveis, não teria presenteado Roberto Jefferson com um cheque em branco, nem estaria agora constrangido pelo abraço de afogado do companheiro Renan Calheiros. Se soubesse identificar urgências, teria agido a tempo de evitar o colapso do sistema de transportes.

No primeiro mandato, Lula presidiu a erosão das rodovias federais. No segundo, continua a sobrevoar a crise da aviação civil, escancarada em outubro do ano passado. As dificuldades que Lula tem para conjugar os verbos do poder, por sinal, emergem com nitidez no apagão aéreo que começou há nove meses e não tem prazo para terminar.

Apesar das advertências reiteradas em relatórios da Aeronáutica, Lula não investiu na ampliação da estrutura dos aeroportos e do quadro de controladores de vôo. Não escolheu a prioridade certa. Em contrapartida, escolheu Waldir Pires para o Ministério da Defesa. E se recusa a demitir esse campeão da inépcia.

"Não tenho compromisso com o erro", ensinou JK. Lula não leu a frase. Lula nada lê.


Cabôco Perguntadô

Curioso profissional, o Cabôco agora deu de acompanhar o dia-a-dia dos ministros de Estado. Ao conferir a primeira semana de julho do chanceler Celso Amorim, ficou especialmente impressionado com a agenda do dia 3. Um dos itens informa:

Recebe telefonema do senhor Philippe Douste-Blazy.

"Gabinete", acrescentou o autor da anotação, sem especificar o horário do compromisso. Essa informação o Cabôco dispensa. Mas faz questão de saber quem é e o que faz o senhor Philippe.

Vá em frente, xerife Tuma

Ao ouvir de Joaquim Roriz a história da bezerra Miragem, o senador Romeu Tuma mostrou que não perdeu o faro de policial. Aquilo era conversa de bandido, deduziu. E foi logo avisando que enquadraria o vaqueiro ocasional.

O xerife agora precisa contar ao amigo Renan Calheiros que o problema não está no filho fora do casamento. Mora nas falcatruas que envolvem lobistas, empreiteiras e boiadas imaginárias. E convém explicar-lhe que há coisas piores que deixar a presidência do Senado. Cadeia, por exemplo.

Bebê berra no berço errado

A coluna cometeu na semana passada uma grave injustiça contra Santa Catarina: acusou o simpático Estado sulista de ter sido o berço da senadora Ideli Salvatti. Ela é paulistana. Só migrou em 1982, na esteira do então marido Eurides Mescolotto, também paulista, petista e atual presidente do Banco de Santa Catarina. O berreiro à procura de uma idéia assimilou o sotaque regional e virou senadora. Agora, ameaça governar o Estado. Se permitirem que se eleja, aí sim todos os catarinenses terão incorrido em pecado. Mortal.

Mais humor e mais juízo

Há quase dois anos, em sua coluna na Veja, Diogo Mainardi lembrou que José Eduardo Dutra, então presidente da Petrobras, fora sindicalista da CUT e senador pelo PT de Sergipe. "Não sei o que é pior", emendou. Acusado de "preconceito" pelo Ministério Público Federal, acaba de ser absolvido pelo juiz (sergipano) Ricardo Mandarino, que recomendou "mais humor" aos ofendidos. Deveria recomendar também mais juízo aos eleitores: depois de Dutra, Sergipe decidiu castigar o Senado com Almeida Lima (leia ao lado).


Yolhesman Crisbelles

A taça vai para o senador sergipano Almeida Lima, pela ordem do dia destinada à tropa de choque de Renan Calheiros. Trecho:

Combater a grande mídia, e seus interesses inconfessáveis, é tarefa gigantesca e primordial. Os espetáculos oferecidos são grotescos, mas bem ao gosto dessa platéia alienada sedenta pelo sangue próprio das touradas que transformam em vítimas os que consideram sem alma, desde que produzam o delírio das massas.

08 / 07 / 2007

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