O Globo |
10/7/2007 |
"Ah... que saudades da boa e velha corrupção d"antanho... Nem tinha esse nome... Era o quê? "Bons negócios", bons ventos para um reino de prazeres", era uma troca justa entre o privado e o público. Não víamos mal nisso; havia uma certa beleza nesse casamento, nessa simbiose entre crime e progresso. Quem trabalharia apenas pelo abstrato "interesse público" que intelectuais cismaram que existe? Não há isso. Só o interesse pessoal, privado, só os egoísmos casados constroem um futuro. O "desprendimento" romântico é hipocrisia, narcisismo, talvez até uma forma de masoquismo. Através dos contratos superfaturados, dos favores clandestinos, se construiu um país e as instituições se ergueram. Nós, políticos ladrões da antiga, fomos semeados na Colônia, regados no Império, desabrochados na 1ª República. Éramos tradição cultural. Por isso, achamos que a coisa mais grave que aconteceu ultimamente no Brasil foi a desmoralização da política. Nem falo do desrespeito pela verdade, pois a verdade ninguém sabe o que é, mas a desmoralização da mentira. Essa raça de vagabundos não tem respeito nem pela mentira. Éramos do tempo em que tudo era a aparência, em que havia a pose. Ahhh... como era importante a pose. Uma de nossas habilidades era justamente "aparentar"; podíamos ter no bolso do paletó um "jabá" recente, ali, quentinho... há, há, "jabá", como vocês chamam, mas a pose era imprescindível. O importante não era ser honesto; era parecer honesto. Saudades do Lupion, do Ademar, do buraco do Lume, tantos... Vocês viram o discurso do Roriz, fingindo honradez? Nem mentir sabem mais... Ele parecia um mamulengo bêbedo, berrando fora de sincronismo, os gestos descolados das palavras, falando na Virgem Maria, numa patética imitação de nossas hipocrisias clássicas. Sabíamos roubar de fronte alta, com dignidade. Um de nossos presidentes uma vez recebeu uma mala cheia de dólares dentro do Alvorada e passou uma descompostura no corrupto ativo: "Deixe a mala preta aí e ponha-se daqui para fora!" Hoje, não. Essa gentalha lamentável aí do Senado não tem noção da "poética da corrupção"; não têm um mínimo de elegância, de postura parlamentar, não têm oratória, não se cuidam, vestem-se mal, nos chocam com suas carantonhas sórdidas. Falta a esses auto-engano. E tínhamos, na época, um oblíquo amor pelo País, sim. Tínhamos um carinho misturado com gratidão por tantos privilégios, nos sentíamos misturados com as florestas, com as cachoeiras, havia uma simbiose consentida entre nós e o povo. Hoje não há mais nada disso. Aumentou muito o número dos desonestos. Veja o Senado. Quase todos... nosso prazer também advinha de nos sabermos a minoria esperta, o clã perverso, nossa volúpia era alimentada pela "superioridade" que sentíamos pelos ridículos homens de bem, que nem as esposas respeitavam. Nós, sim, éramos o Brasil. Essa gentalha aí não presta. Traiu a grande beleza secular da roubalheira nacional." |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, julho 10, 2007
Arnaldo Jabor - "Ai, que saudades da tramóia tradicional..."
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