A paranaense Angela Park torna-se a atleta nacional
mais bem-sucedida no golfe internacional
Duda Teixeira
Jonathan Erst/AFP |
Angela no US Women's Open: ela terminou em segundo lugar |
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Nos últimos dez anos, o golfe brasileiro vive seus melhores momentos. O número de participantes multiplicou-se por quatro e foram abertos 55 campos. Só falta um elemento para popularizar o esporte: um golfista para ser ídolo nacional. Por falta de opção, atletas de outras modalidades, como o atacante Ronaldo Fenômeno e o piloto Rubinho Barrichello, foram contratados para divulgar o golfe. Agora, as esperanças transferiram-se para a paranaense Angela Park, 18 anos, estreante na liga profissional de golfe dos Estados Unidos. Ela conquistou na semana passada o segundo lugar no US Women's Open, o mais importante torneio do mundo – a disputa está para o golfe feminino como Roland Garros está para o tênis. Foi a quarta competição profissional em que Angela terminou entre as dez melhores neste ano. Nunca um golfista brasileiro, homem ou mulher, chegou tão longe. Ela foi apelidada pelos comentaristas americanos de golden girl (garota de ouro, em inglês), pela rapidez com que se destacou em um campeonato disputado por nada menos que 150 atletas.
"Para ser perfeito, só faltava Angela ter um sobrenome bem brasileiro, como Silva", diz Álvaro Almeida, presidente da Confederação Brasileira de Golfe. Seria uma justificativa a mais para chamar a golfista de "nossa". A identidade nacional da golfista está dividida em três: brasileira, coreana e americana. Filha de coreanos que imigraram para o Brasil na década de 80 e nascida em Foz do Iguaçu, ela vive nos Estados Unidos desde os 8 anos de idade. O que Angela tem de mais brasileiro, segundo sua própria definição, são o passaporte e o gosto por churrascarias rodízio. Nos dez anos em que vive nos Estados Unidos, voltou ao Brasil apenas três vezes. A distância não a impede de exibir patriotismo verde-amarelo, com uma pitada de paradoxo. "Ser capaz de representar um país grande como este tem sido uma experiência emocionante", diz ela em inglês, o idioma que prefere para dar entrevistas. Angela e seus três irmãos mudaram-se para os Estados Unidos porque o pai decidiu montar uma fábrica de bordados na Califórnia, similar à que a família tem até hoje no bairro do Brás, em São Paulo. A empresa paulistana, Paspal Confecções e Bordados Ltda., é administrada pela mãe, que viaja constantemente para os Estados Unidos para assistir aos principais torneios da filha.
Foi nos Estados Unidos que Angela deu suas primeiras tacadas. Pouco depois de a família se mudar para lá, a mãe matriculou os filhos maiores em uma escola de golfe. Angela, então com 9 anos, também começou a ter aulas, para não ficar sozinha em casa. A menina evoluiu rapidamente. Após completar o 2º grau no ano passado, ela decidiu dedicar-se primeiro ao golfe profissional e só no futuro pensar em uma universidade. Financeiramente, a opção já compensou. Só neste ano, em sua estréia no circuito profissional, Angela já ganhou em prêmios mais de meio milhão de dólares. Se continuar tendo bons resultados, a possibilidade de ela fazer fortuna no esporte é grande. A mexicana Lorena Ochoa, a primeira do ranking mundial, faturou quase 8 milhões de dólares nos últimos cinco anos. A havaiana Michelle Wie, de 17 anos, descendente de coreanos como Angela, nem sequer participa oficialmente do circuito profissional e já acumulou 10 milhões de dólares jogando como convidada em torneios femininos e masculinos.
Para ficar mais perto dos locais onde ocorrem os torneios da liga americana, Angela mudou-se para Orlando, na Flórida. As competições, que geralmente acabam no domingo, atrapalharam suas idas à missa na Igreja Presbiteriana. Ela costuma rezar com discrição antes de jogar e posa para fotos com um crucifixo no pescoço. Sua postura determinada recebe elogios até das adversárias. Angela liderou o torneio da semana passada, disputado na Carolina do Norte, nos três primeiros dias. Só perdeu a liderança no quarto e último dia. Em toda a competição, ela deu 281 tacadas, apenas duas a mais do que a campeã. (No golfe, o objetivo de cada partida é conseguir acertar as bolinhas em dezoito buracos com o menor número de tacadas possível.) A principal qualidade de Angela é o swing, o movimento que o corpo faz antes de o taco acertar a bola. "Ela tem um swing perfeito, sem defeitos, e uma concentração enorme, parecida com a do campeão americano Tiger Woods", diz Ricardo Melo, professor do Centro Paulista de Golfe e comentarista do canal ESPN. O ponto fraco de Angela é a altura, 1,65 metro, abaixo do ideal para uma golfista. Devido a essa característica da atleta, o taco desenha um círculo curto no ar e acerta a bola com pouca velocidade. Isso faz com que Angela não seja tão boa nas tacadas longas. Ela compensa a deficiência com uma precisão acima da média quando se trata de acertar um buraco a menos de 90 metros de distância. "Com o tempo e mais treino, certamente ela vai melhorar suas tacadas longas", prevê Melo.
B.M.W./Zefa/Corbis/Latin Stock |
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