Mais uma onda de reação ao etanol. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), que antes era favorável, agora mudou (por que será?). Associa-se à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para dizer que o álcool combustível é bom, tem futuro no Brasil, mas ameaça os preços dos alimentos. Uma estranha coincidência (será?) divulgar o relatório nas vésperas da reunião sobre o tema, em Bruxelas, onde Lula foi o principal convidado. Isso confirma apenas que o lobby da Opep ganha força e agressividade. Afinal, seus integrantes embolsam dezenas de bilhões de dólares vendendo por US$ 74 o petróleo que produzem por US$ 10 o barril.
É mentira deslavada! Lula reagiu à altura. Por que não falaram no aumento do preço dos alimentos quando o petróleo pulou de US$ 28 para US$ 74? Ninguém respondeu porque não tinha o que responder.
OS PREÇOS SUBIRAM ANTES
Mas Lula perdeu excelente oportunidade para refutar a grande mentira endossada pela OCDE e pela FAO, a de que o etanol é a causa da elevação dos preços dos produtos agrícolas. Mentira, mentira deslavada e vergonhosa que precisa ser desmascarada. Por quê? Nos últimos 12 meses, os preços de todas as commodities agrícolas, metálicas e minerais explodiram! E o etanol ainda nem havia entrado no mercado! Vamos aos números.
1) Em 12 meses, o índice em dólar de todas as commodities aumentou 22,7%, com base em 2000.
2) O das commodities alimentícias subiram 28,7%.
3) Dos metais, 23,5%.
4) De todas as commodities industriais, 17,9%.
A fonte é a revista britânica Economist, que publica semanalmente a evolução dos preços.
FOI A CHINA
O que aconteceu? Ora, todos sabem. Peter Mandelson sabe, Susan Schwab sabe, Durão Barroso sabe. Mas não admitem e não dizem. Os preços de todas as commodities - e não só as agrícolas, senhores “protetores da humanidade” - explodiram quando a China entrou no mercado comprando tudo o que precisava. Alimentos, minerais, tudo. A culpa não é nossa. É dela.
Tomem nota, senhores que contestam; atente para isso, presidente: “Os preços dos alimentos aumentaram antes, muitíssimo antes de o etanol ter surgido como opção parcial para combater o aquecimento global. Ele não gera fome, gera a salvação ambiental. E essa fome consumidora dos países emergentes recém-chegados ao mercado vai continuar, pois a China cresce a 10,8%, a Índia, a 9,1%, e a Rússia, a 7,9%, sem contar outros asiáticos. Esse é um problema antigo e o etanol é novo.
EUA, TEIMOSIA IRRACIONAL
E os EUA? Esse é um caso especial de teimosia inspirada em falso geopoliticismo. Eles insistem em produzir etanol do milho a um custo de US$ 65, quando o etanol da cana não passa de US$ 35. E ainda gastam US$ 4,5 bilhões subsidiando a produção. Poderia ser compensador ante os US$ 74 do petróleo, mas não é, pois este produz uma gama de produtos essenciais, como a nafta, não só gasolina.
Argumento: não queremos depender do etanol importado. Sim, mas continuam dependendo do petróleo em US$ 74, que importam desse imprevisível Oriente Médio islâmico que fanatizou o petróleo e nos mantém como reféns?
Os americanos absorvem 21 milhões barris por dia e importam 60% do que consomem. Um dia, terão de optar entre importar etanol do Brasil ou aceitar um aumento ainda maior dos preços dos alimentos, provocado pela redução da área plantada com produtos agrícolas em favor do milho. É ilógico, é irracional, mas é isso. São cautelosos quanto à sua soberana independência, mas terão de se curvar ao etanol, como se curvam ao petróleo do Oriente Médio, entre eles o do Irã. O problema é inteiramente deles, não nosso. Estamos investindo em 86 usinas até 2012. Teremos etanol para quem quiser, sobretudo para China e Japão, que está construindo gasodutos aqui.
MAIS IRRACIONALIDADE
Os EUA taxam pesadamente o etanol de cana para proteger os produtores de milho, que subsidiam. Com isso, porém, pressionam o preço do etanol, do milho e de outros produtos que consomem internamente. E depois vêm culpar o etanol... Por que não deixar o nosso produto entrar por US$ 35 para substituir o deles, de US$ 65, e incentivar os fazendeiros para que continuem a produzir milho e outros grãos a preços menores para o mercado interno e também exportar, reduzindo as pressões inflacionárias?
E A AMAZÔNIA, HEIN?
E agora os europeus, que, como sempre dizem sim, mas agem como não, querem defender a nossa Amazônia da invasão da cana. Querem também defender os países pobres que sofrerão com a alta dos alimentos, mas pouco ou nada fazem para ajudar as antigas colônias africanas, essas, sim, necessitadas de socorro. Eles são vítimas da corrupção endêmica de seus governantes, quase sempre ditadores sanguinários que roubam ou vendem os alimentos doados.
A culpa é nossa? É do etanol? Mentira escandalosa, que precisa ser desmistificada.Quanto à Amazônia dos europeus, dos americanos, da FAO, da OCDE, também é burrice ou má-fé. Escolho a segunda opção, pois os técnicos agrícolas europeus - mundiais - sabem perfeitamente que o solo amazônico não é apto para o plantio de cana. Mas outras culturas desalojadas pela cana podem invadir a Amazônia! Certo? Errado. A cana ocupa apenas 0,4% do território nacional, 2% das terras agricultáveis, refuta Lula
POBREZA? MAS ELA DIMINUIU!
Mas aumenta a pobreza! Também não, embora haja muita exploração do trabalhador rural, o que deve ser combatido pela fiscalização, não com o fim do emprego. “A indústria do etanol já criou, diretamente, 1,5 milhão de empregos e indiretamente, 4,5 milhões, no Brasil”, afirma Lula, em artigo no Valor de quinta-feira. Mas no Brasil a pobreza diminuiu com o etanol, contra-ataca o presidente. Com a simples adição de 25% de álcool de cana reduzimos 40% do consumo e a importação de combustíveis fósseis. Mais: deixamos de emitir 120 milhões de toneladas de gás carbônico.
E OS OUTROS? HÁ SOLUÇÃO
Certo, mas os outros países produtores de etanol não estão fazendo, refutam os europeus e as eternas carpideiras, fanáticas das ONGs que são contra o óleo combustível nas termoelétricas, a energia nuclear e as hidrelétricas que ‘ameaçam” o ambiente (Ufa! Haja ignorância ou má fé!). Ora, se não estão fazendo isso, é problema deles. A solução não é acabar com o etanol, mas não comprar desses países que o produzem com custos humanos e ambientais.
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