editorial |
O Estado de S. Paulo |
3/4/2007 |
Foi perda de tempo a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Camp David, no sábado. Ele não teria de gastar cinco horas com o presidente George W. Bush para afirmar o direito do Brasil de manter relações econômicas com o Irã nem para detalhar a ajuda a países do Caribe para a produção de biocombustíveis. Segundo o Washington Post, Lula testou a paciência do presidente americano com um “discurso desconexo de 20 minutos” e falou longamente, “em tom professoral”, sobre algo por ele batizado como “iminente crise do aquecimento global”. A figura de Lula já não atrai o interesse dos primeiros tempos nem sua retórica tosca é aceita, como há alguns anos, com simpatia e boa vontade. Para o governo do presidente Bush, empenhado em neutralizar a influência do presidente Hugo Chávez na América Latina, o contato com Lula pode ter produzido algum benefício político. Mas nem isso impediu a diplomacia norte-americana de criticar os vínculos econômicos do Brasil com os integrantes do chamado “eixo do mal”. O balanço da viagem, para o lado brasileiro, é inequívoco: puro desperdício de tempo, sem nenhum avanço em qualquer tema relevante para o País, incluída a Rodada Doha de negociações comerciais. A rodada foi discutida entre o ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim, e a representante dos Estados Unidos para Comércio Exterior, Susan Schwab. Os dois poderiam ter conversado sobre o assunto sem o circo diplomático armado em torno da viagem presidencial. Mas também a conversa entre os dois negociadores teve resultado pífio. Nada importante resultou dessa conversa, de acordo com as informações conhecidas até ontem. Ambos voltaram a proclamar o interesse de seus países na conclusão das negociações globais. Mas nenhuma nova concessão foi sequer insinuada pela representante norte-americana. O chanceler brasileiro voltou a mencionar a hipótese de uma intervenção de chefes de governo para destravar a rodada global, diante da ameaça cada vez mais concreta de um grande fracasso. Mas não surgiu novidade sobre o assunto. A idéia de um novo esforço diplomático para destravar a rodada já estava em circulação, lançada alguns dias antes pelo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. Não seria necessário o encontro dos presidentes Lula e Bush para a sustentação da proposta. Os dois limitaram-se a reafirmar o interesse dos Estados Unidos e do Brasil num acordo comercial ambicioso, rejeitando explicitamente, numa entrevista, a hipótese de um plano B. Apesar dessas palavras, não se pode excluir a possibilidade de um entendimento em torno de uma proposta mais modesta, destinada a salvar alguns pontos de convergência alcançados até agora - como o fim dos subsídios à exportação do agronegócio. O encontro dos dois presidentes não deve ter causado grande impressão aos governantes europeus nem ao principal negociador da União Européia, Peter Mandelson. Mais do que Lula e Bush, ele conhece os problemas da rodada e as concessões necessárias para se esboçar um acordo. Neste momento, os novos lances dos vários negociadores apenas tornam mais complicada a construção de um consenso. O governo brasileiro resolveu transformar o etanol num grande tema, condicionando suas concessões comerciais à abertura de mercados para biocombustíveis. Os europeus decidiram brigar pela abertura de mercados para “bens ambientais”, produtos ecologicamente corretos, como bicicletas. Congressistas norte-americanos procuram uma brecha para influenciar a discussão. Se puderem, forçarão seu governo a incluir cláusulas sociais e ambientais em qualquer acordo. Enquanto isso, os negociadores têm de correr para alcançar algum resultado significativo antes de expirar o mandato negociador do Executivo norte-americano. Se nada conseguirem até o fim de junho, o presidente George W. Bush terá de conseguir do Congresso uma nova autorização, provavelmente sujeita a condições mais severas. Os democratas, hoje no controle do Legislativo americano, não mostram nenhum interesse especial na conclusão de novos acordos comerciais. Nenhum desses problemas foi atenuado pela visita do presidente Lula a George Bush. E nenhum passo foi dado para a redução dos entraves ao comércio Brasil-Estados Unidos. Nem essa alternativa os brasileiros terão no caso de um colapso da Rodada Doha.
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Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, abril 03, 2007
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