Raymundo Costa |
Valor Econômico |
17/4/2007 |
No momento em que Lula era só felicidade, ainda comemorava a reeleição e mal ensaiava os primeiros passos na composição do novo governo, um deputado paulista pronunciou a frase maldita, segundo a qual Lula podia muito mas não podia tudo no PT. Magoou. Passados pouco mais de 100 dias de governo, Lula demonstrou que até não pode tudo no PT, mas pode muito mais do que imaginava o destacado membro da máquina partidária. Hoje, o PT é que é um pote até aqui de mágoas. E já planeja fazer alguma "pirraça" com o governo, no melhor estilo dos "sustos" pregados pelos pemedebistas do Senado quando seus interesses são contrariados. Talvez esquecido do estrago provocado pelo fogo amigo no primeiro mandato, o PT está à espreita pois sente-se desprestigiado e desautorizado sistematicamente pelo presidente da República. A causa imediata dos planos de insubordinação é a redistribuição dos espaços de poder no governo. Mas Lula também deixa os petistas contrafeitos quando revela disposição para apoiar um candidato de fora do PT à sucessão de 2010. Governadores como Marcelo Déda (SE), que é compadre de Lula, acreditam que isso seria inevitável, se a eleição fosse hoje. "Lula está se especializando em bater no PT", choraminga um bem situado dirigente partidário. Assim, Lula desqualificaria o PT quando fala em "despetizar" o governo - seria uma espécie de "liberou geral para bater no partido". Ou quando afirma que os ministros terão autonomia para fazer as nomeações, uma espécie de senha para os aliados avançarem sobre os cargos que o PT tomou de assalto no início do governo. É fato que o PT perdeu espaço no primeiro escalão, mas continua amplamente majoritário e detém os principais ministérios. O antigo campo majoritário petista, o que mais reclama, até ampliou de 47,1% para 56,2% sua participação no número de pastas destinadas ao partido, segundo levantamento do repórter Fábio Zanini, um expert em PT, publicado na edição de domingo da "Folha de S. Paulo". Mas também é fato que o PT ficou fora do eixo da articulação política do governo. Palocci e Dirceu recuperam influência É nesse espaço que se discutem os cargos e a distribuição da verba orçamentária da União, importantes para os candidatos que vão concorrer a bordo da máquina estatal às eleições municipais de 2008: o ministro da coordenação política e o líder do governo na Câmara são do PTB, os líderes de Lula no Congresso e no Senado são do PMDB. Restou ao PT o conselho político da coalizão e a interlocução direta com Lula; e resta atazanar a vida de Walfrido como atazanou a de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) quando este assumiu a coordenação política no lugar de José Dirceu. Outro sapo mal digerido é o desgaste a que Lula submeteu Marta Suplicy na escalação do ministério. Contencioso que se ampliou com o jantar de Lula com o PMDB, semana passada. Além de enciumado, o PT ficou com a sensação de que o presidente confirmou no jantar o que tem especulado reservadamente quando afirmou que a coalizão de partidos que o apóiam vai além de 2010: que o candidato à sua sucessão pode sair de fora das fileiras do PT. Isso num momento em que há pelo menos dois movimentos, no interior do partido, para viabilizar uma candidatura própria a presidente. O mais conhecido e visível deles é o do grupo de Marta Suplicy, que teve de reavaliar o projeto quando Lula refreou o ímpeto com o qual pensava em desembarcar em Brasília no comando de um ministério de primeira classe. O movimento menos conhecido e visível, mas repentinamente acelerado, é feito pelo ex-ministro Antonio Palocci. O deputado calculava passar submerso o primeiro ano de mandato, e aos poucos se deslocar para o centro da cena política. Em pouco mais de dois meses de mandato, Palocci já lançou um livro, fez palestras na Fiesp e tem participação ativa nas comissões técnicas da Câmara. Movimento que não passa desapercebido do Palácio do Planalto. Com o ressentimento do PT com Lula, o partido automaticamente se volta para o ex-ministro José Dirceu. Mais que o ano passado e em 2005, dirigentes petistas identificam o aumento no sentimento partidário de que Dirceu foi vítima e não protagonista dos escândalos que revogaram a áurea de partido ético do PT. E de que o atual presidente, Ricardo Berzoini, ao contrário de Dirceu é muito "água com açúcar" para uma disputa que tem tudo para se transformar uma carnificina. Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, abril 17, 2007
Política - Dores da despetização
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