artigo - Roberto Macedo |
O Estado de S. Paulo |
5/4/2007 |
Sabe-se, agora, que a economia brasileira é maior do que se pensava, pois as novas Contas Nacionais do IBGE revelam um produto interno bruto (PIB) com valores superiores aos anteriormente divulgados para o período 2000-2005. Os novos dados também mostram taxas de crescimento maiores que as anteriormente medidas. Dados provisórios de 2006 repetem os mesmos resultados.E mais: como vários outros indicadores econômicos também são medidos como porcentagem do PIB, e alguns deles não tiveram seu valor alterado, percebe-se que o País tem agora, medidos dessa forma, uma dívida pública relativamente menor e um comércio exterior que revela uma economia mais fechada do que se imaginava. Houve indicadores, também usualmente relacionados ao PIB, que tiveram seus valores alterados pelas novas práticas do IBGE. Entre eles, destaca-se a taxa de investimento, dada pela porcentagem que a Formação Bruta de Capital Fixo representa do PIB, na forma de construções em geral, máquinas, instalações e outros bens de capital. Essa taxa é importante, pois revela quanto do PIB foi destinado a ampliar a capacidade produtiva do País, dando-lhe ou não condição de produzir mais. Além de expandir a oferta de bens e serviços, os investimentos estimulam a demanda, pois, à medida que são realizados e entram em funcionamento, geram mais renda na economia. Em geral, quanto maior a taxa de investimento, maior a de crescimento. Olhando as taxas de investimento na sua nova medição, no período 2000-2005 elas mostram valores menores que os antigos. Também não há o crescimento registrado pela série anterior nos últimos dois anos desse período. Assim, os dados anteriores revelavam as seguintes taxas: 19,3% (2000), 19,5% (2001), 18,3% (2002), 17,8% (2003), 21,3% (2004) e 20,6% (2005). Nos novos, as taxas caíram para 16,8%, 17%, 16,4%, 15,3%, 16,1% e 16,3%, respectivamente. Assim, estas últimas taxas estão estagnadas em valores perto de 16% e sem o forte aumento revelado pelos dados antigos nos dois últimos anos desse período, quando superaram 20%.Tal como as taxas de crescimento do PIB brasileiro, taxas de investimento próximas de 16% também estão entre as mais baixas nas comparações internacionais. A China, notável pelo seu forte crescimento desde a década passada, investe cerca de 40% do PIB, o qual cresce a taxas próximas de 10% ao ano. A taxa de investimento da Índia é de 27%, e esse país tem um crescimento perto de 7% ao ano. A taxa de investimento do Brasil está próxima da dos EUA, que mostra 15%, mas se trata de uma economia madura e rica, que não precisa crescer tanto como a nossa. Os números das taxas de investimento brasileiras, combinados com um PIB de valor maior e crescendo a taxas algo superiores às anteriormente verificadas, produziram o diagnóstico de que a produtividade da economia brasileira também supera aquela que até então se imaginava. Ou seja, com taxas de investimento menores no novo levantamento, este mostrou fatores de produção (trabalhadores, terra, capital e tecnologia) produzindo um PIB maior. E mais: como as taxas de crescimento do final do período 2000-2005 são maiores do que as do seu início, conclui-se que a produtividade aumentou nesse período, pois a taxa de investimento esteve estagnada.Esse diagnóstico foi enfatizado por autoridades governamentais para alardear que a menor e estagnada taxa de investimento não era um resultado tão ruim, dado esse aumento da produtividade. Trata-se, entretanto, de um olhar sobre o passado. Se pensarmos no presente, inclusive em nossa situação comparativamente à dos países cujas economias crescem muito mais, e, ainda, em como agir por um futuro bem melhor, os novos dados reafirmam um diagnóstico antigo e preocupante, o da necessidade de aumentar fortemente a taxa de investimento. De fato, ao lado de entender melhor o que aconteceu na economia brasileira no passado, o que os novos dados também explicam melhor é por que o Brasil cresce tão pouco. Com os dados anteriores da taxa de investimento, que sobreestimavam os valores efetivamente realizados, o contraste entre nossas taxas de investimento e as de outros países não mostrava isso tão evidentemente como agora. Por exemplo, a China tinha o dobro da nossa taxa de investimento, mas seu crescimento alcançava o triplo do brasileiro. Agora, percebe-se que seu esforço de investimento é cerca de duas vezes e meio o do Brasil, sem mudança significativa na diferença de taxas de crescimento. Quanto ao aumento de produtividade registrado pelos novos dados, ele também se refere ao passado. Nada garante que continuará no futuro, e foi de uma magnitude muito distante da necessária para ampliar significativamente a taxa de crescimento do PIB brasileiro. Assim, o que é preciso mesmo é aumentar a taxa de investimento, inclusive porque parte importante do aumento da produtividade vem embutida na maior eficiência das novas máquinas que passam a operar com a ampliação dos investimentos.Portanto, se quiser mesmo com seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) acelerar o crescimento, o que de fato o governo federal tem de fazer é aumentar muito seus próprios investimentos, e estimular e não atrapalhar o setor privado ao fazer os dele, em particular com a carga tributária que os novos dados também confirmam como muito elevada. E, ainda, com a fraca ou negativa produtividade que o governo mostra ao agir, como ao protelar a adoção as Parceiras Público-Privadas, a retomada da privatização dos serviços de suas rodovias e ao gerir caoticamente seu sistema de controle aéreo.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, abril 05, 2007
PIB, investimento e Produtividade
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