Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 11, 2007

Paulo Renato Souza -Para além da cortina de fumaça


Há várias maneiras de se ganhar uma eleição. A mais correta e republicana é apresentar um programa exeqüível para os eleitores. Existem, claro, outras formas, algumas demagógicas, outras falsas, e a pior de todas que é atribuir ao adversário, por meio de mentiras insistentemente repetidas, projetos e propostas que podem causar danos ao País e aos eleitores.


Assistimos a esse filme enganoso nas últimas eleições presidenciais, quando a propaganda do PT, em busca da reeleição, desqualificou as privatizações realizadas no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Nos dias anteriores ao pleito, a política de privatização virou sinônimo de sucateamento do estado, desemprego, entreguismo e corrupção. E nós, do PSDB, ficamos sem reação, perplexos diante da avalanche de insinuações maldosas, de cunho eleitoreiro. Perdida a eleição, não temos o direito de ficar calados, ouvindo novamente o governo do presidente Lula desqualificar as privatizações. Mais do que defendê-las, porque estão no nosso programa e por bem sucedidas, cabe a nós mostrar a cortina de fumaça que o governo tenta estender para esconder sua incompetência e seu caráter autoritário.


Na última semana, o ministro das comunicações, Hélio Costa, esteve no Congresso e voltou a criticar a política do governo anterior, que ele, aliás, apoiou. O ministro pode até ser contrário as privatizações, o que parece pouco provável, mas não pode, pela natureza do cargo, mascarar números e dados. Quando assumimos o governo, apenas 14% da população tinham acesso à telefonia, fixa ou móvel. Hoje, e o ministro conhece bem esse número, ou deveria conhecer, 76% são atendidos pela telefonia. O que antes era considerado patrimônio, declarado no Imposto de Renda, é agora ferramenta de trabalho essencial para milhões de pessoas.


Outra dado que com certeza o ministro conhece é sobre o valor de venda das Teles. Todos que combateram, ou ainda combatem, as privatizações acusaram o nosso governo de dilapidar o patrimônio publico com a venda das estatais a preços supostamente inferiores a seu valor real. Eram apenas críticas. A privatização das Teles brasileiras foi o mais bem sucedido caso em todo o mundo, com um ágio de 63% sobre o preço mínimo, o que rendeu mais de 19 bilhões de Reais ao Tesouro Nacional. O exemplo maior do engodo que o Ministro tentou difundir envolve a Embratel: vendida três anos depois, a empresa foi adquirida pela mexicana Telmex por um terço do valor da transferência original.


Na verdade, quando o Ministro foi ao Congresso não pretendia discutir a privatização, queria apenas tergiversar para fugir do assunto em pauta: a criação da Rede Estatal de Televisão. Fugiu do debate, talvez para esconder o caráter autoritário da iniciativa. Já temos redes de televisões públicas que funcionam bem. Existem redes plurais, como as que pertencem ao Poder Legislativo nos seus diversos segmentos. O Poder Judiciário conta também com redes públicas e executivos estaduais patrocinam emissoras regionais importantes na difusão cultural e da educação. O próprio Governo Federal já conta com o sistema Radiobrás.


Por tudo isso, é difícil aceitar como um projeto fundamental a criação de mais uma rede estatal de TV, como quer nos fazer crer o Planalto. Pior: é muito preocupante a tentativa de escamotear a discussão da conveniência de se criar ou não a TV Pública. Nada justifica a fuga, principalmente usando subterfúgios e expedientes condenáveis até no calor de uma disputa eleitoral. A importância do debate é para além de uma cortina de fumaça.


Paulo Renato Souza é deputado pelo PSDB de São Paulo e foi ministro da Educação no governo Fernando Henrique Cardoso

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