Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 15, 2007

Opinião Só Lula não vê


Suely Caldas

Foi uma semana de boas notícias: o FMI disse que nossa economia vai crescer 4,4% em 2007, acima do que previu antes; em queda, pela primeira vez em muitos anos, a taxa de risco Brasil ficou abaixo da média dos países emergentes; a produção industrial e o emprego aumentaram; a Bolsa de Valores bateu sucessivos recordes; um diretor do Banco Central foi substituído sem nenhuma turbulência no mercado. Apesar disso, as agências de rating continuam negando classificação de investment grade para nosso país, adiando-a “possivelmente lá para 2009”, avisam. E por quê?

A verdade é que, no olhar dessas agências, as razões negativas superam as positivas, o saldo segue desfavorável e revertê-lo implica decisões que o presidente da República se nega a tomar. A principal delas é ignorar as reformas estruturais (previdenciária, trabalhista, política e judiciária - a tributária só agora começa a tomar forma). Afinal, a dívida pública interna é muito elevada, passa de R$ 1 trilhão e é tímida a trajetória desenhada pelo governo para reduzi-la; muito baixa para um país emergente, a taxa de investimento não garante a continuidade de expansão econômica vigorosa nos próximos anos; a incompetência gerencial de alguns Ministérios dificulta investimentos em infra-estrutura, seja com recursos públicos, porque são usados prioritariamente em gastos correntes, seja com dinheiro privado, porque a instabilidade de regras de regulação afugenta investidores; ao desprezar as reformas estruturais, o governo prolonga indefinidamente o caos orçamentário e a péssima qualidade dos gastos públicos.

Como se vê, a foto da semana é para ser celebrada, mas o futuro está fora do foco, envolto numa névoa turva e ameaçadora. O lado bem-sucedido do governo Lula é explicado pela sorte de conviver com um período de exuberância da economia mundial e pelo monitoramento adequado e competente do Banco Central (BC), que pode ter exagerado em alguns momentos, mas garantiu estabilidade econômica, inflação baixa e uma trajetória consistente e sem recuos de queda dos juros. Ao dar força e apoio a Henrique Meirelles e enquadrar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, forçando-o a afinar o discurso com a direção do BC, o presidente Lula está reconhecendo o êxito do BC e aprovando suas políticas monetária e cambial. Em permanente oposição e crítica a Meirelles, ao PT resta esconder-se no silêncio e aceitá-lo humildemente no comando da economia.

Ainda restam três anos e oito meses de governo. Lula pode optar entre a mediocridade do feijão-com-arroz, o empurra com a barriga, correndo o risco de desmoronar se refluírem as economias dos EUA e da China, ou fazer o que precisa ser feito para encorajar investidores a aplicar dinheiro no Brasil em energia, usinas hidrelétricas, estradas, ferrovias, portos, expansão industrial. Começando pelas inadiáveis reformas tributária, trabalhista e previdenciária, que reduzem o custo Brasil, fortalecendo regras e agências reguladoras, enfim, oferecendo segurança, regras estáveis, atrair para cá multiplicadas decisões de investimentos. O momento é extremamente oportuno, o FMI acaba de eleger Brasil e Chile como os países mais promissores da América Latina, indicando-os a investidores. Falta o governo cumprir sua parte.

Mas Lula parece inclinado ao feijão-com-arroz, inebriado por uma popularidade que pode mostrar-se fugaz, efêmera, se ele não cuidar de construir o País com trabalho, coragem política para fazer o que precisa ser feito, olhando para o futuro e para o progresso econômico e social. Por enquanto ele conta com a sorte do quadro externo. Mas até quando? Esta sorte é precária, incerta, está fora do nosso controle, não depende de nós e pode mudar.

Que o governo precisa mudar o rumo e trabalhar duro na travessia até 2010 é óbvio, pura constatação. Até a revista The Economist, em sua edição desta semana, alerta que o Brasil poderia estar em situação bem melhor, não fosse “a decepcionante falta de ambição” do presidente Lula. E no editorial escreve: “O Estado tira muito em impostos e gasta em coisas erradas. Os negócios são prejudicados pelo excesso de regulamentação, incluindo leis trabalhistas copiadas de Mussolini.” Será que só Lula não vê?


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