Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 15, 2007

'O Brasil integrou-se ao mundo'


Alberto Tamer*

Há mais de 4 anos, a economia mundial se beneficia de um contexto excepcionalmente favorável, como não via desde a primeira crise do petróleo, de 1973. Há hoje um forte avanço do comércio internacional de bens e serviços, um nível sustentado dos preços das matérias-primas e uma abundância de capitais disponíveis para o investimento, afirma à coluna o presidente mundial do BNP Paribas, Michel Pèberau, o autor da frase que dá título a esta coluna hoje. Quais as raízes desse crescimento?

Para ele, a globalização alimenta o crescimento, provocando mudanças que criam para países e empresas uma fonte de riscos e oportunidades . A aparição de novos produtores no comércio desestabiliza as posições já adquiridas; considerando seu potencial humano, a emergência da China cria uma situação inteiramente nova. 'Porém, o aumento do comércio e seu conteúdo criam também inúmeras oportunidades.'

O BRASIL NO MUNDO

A relação da economia brasileira com a mundial transformou-se nos últimos 15 anos. Graças às reformas estruturais que adotou, o Brasil está hoje em melhor posição para tirar proveito na cena internacional quando favorável e tornar-se menos vulnerável a uma reviravolta dos ciclos mundiais.

Em uma década, o Brasil passou ao grupo de países que se beneficiam da globalização. Desde 1998, sua participação na produção e no comércio mundial evoluiu. As exportações de mercadorias em relação ao PIB aumentaram de 6,1% para 15%, em 2006. As exportações industriais passaram de 4% a 9,5%.

Essa progressão é o resultado de profundas transformações: a competitividade melhorou, enquanto a taxa do real contra o dólar fica próxima do nível de 1999/2000 e a taxa de câmbio efetiva cresceu em 20%; as empresas demonstram disposição para exportar e os grandes grupos estão em fase de internacionalização,observa Pèberau. 'Uma nova política de abertura comercial está sendo implementada no Brasil. Hoje, o País valoriza melhor suas riquezas', afirma o presidente mundial do BNP Paribas. 'Os produtos brasileiros são mundialmente reconhecidos pela sua qualidade e competitividade.'

BRASIL MENOS VULNERÁVEL

Antigamente, as receitas adicionais que proporcionavam os ciclos de alta do comércio internacional alimentavam a demanda interna, sempre atendida em prioridade pelas empresas locais. Sem aproveitar o ciclo de alta para aumentar sua participação no exterior, o Brasil padecia de um arrocho financeiro externo quando o ciclo econômico se revertia. 'Isso contribuía para aumentar o risco país e enfraquecia seu crescimento econômico potencial.' Desde o início da década, os ganhos de participação de mercado na exportação permitem reequilibrar as contribuições interna e externa com crescimento das exportações no agregado. 'Em conseqüência, o risco país se reduziu e seu crescimento econômico potencial deverá melhorar.'

É claro que a abertura comercial aumenta a dependência da economia às flutuações do comércio internacional. Mas a vulnerabilidade financeira diminui em razão de mudanças estruturais profundas. E Michel Pèberau aponta:

- As políticas orçamentária e monetária gozam de credibilidade. O Brasil atingiu objetivos ambiciosos em matéria de excedente primário do orçamento e de inflação

- O País adquiriu credibilidade financeira no exterior. As reservas devem atingir este ano o equivalente a um ano de importações. Essa credibilidade é reforçada pela qualidade da comunicação financeira entre o Estado e o Banco Central e as relações que estes mantêm com as instituições internacionais.

- A dívida pública é hoje menos sensível às variações das taxas de câmbio e juros. A relação dívida/pública em moeda estrangeira foi reduzida.

- Finalmente, o Brasil decidiu-se pela economia de mercado e a abertura econômica. A confirmação dessa escolha quando da alternância democrática de esquerda foi decisiva. A internacionalização das grandes empresas brasileiras contribui para ancorar a economia nacional na mundial.

UM NOVO STATUS ECONÔMICO

A mudança de status do Brasil na vida financeira internacional já produziu resultados positivos, acrescenta Pèberau. 'As minicrises financeiras internacionais de maio/junho 2006 ou do início de março de 2007 não afetaram o Brasil.'

'O País está numa nova etapa de desenvolvimento. A luta contra a inflação o livrou da desastrosa hiperinflação, mas não da demasiada sensibilidade das variáveis financeiras aos choques políticos e financeiros. A desinflação controlada situa-se num contexto de fraca vulnerabilidade financeira. O grupo BNP Paribas já há muito tempo considera o Brasil um país de forte potencial e a visão hoje é de um país de predileção para os investidores .'

E continua: 'O crescimento econômico potencial por muito tempo está acelerando, mesmo que sua evolução seja progressiva em função do modesto investimento e da alta carga tributária; os riscos de forte tremor econômico e financeiro foram sensivelmente reduzidos'.

'A escolha da estabilidade monetária e da continuidade na disciplina financeira embutem uma proteção contra rupturas fortes no processo de crescimento. O Brasil tem um grande futuro pela frente', concluiu Michel Pèberau.

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