É improvável que nesta quarta-feira o Copom corte os juros em mais de 0,25 ponto porcentual. Mas, desta vez, o Banco Central terá mais dificuldades para sustentar o discurso da prudência e da parcimônia.
A 7 de março, data da reunião anterior, o Banco Central podia exibir razões novas para seguir defendendo seu pão-durismo monetário. Havia, então, uma crise no mercado financeiro internacional, os aplicadores fugiam do risco e buscavam refúgio no dólar e nos títulos do Tesouro americano (T-Notes).
O prêmio de risco Brasil, que afere o grau de confiabilidade da dívida brasileira e que recuara para 175 pontos, tinha voltado aos 200 pontos. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pôde erguer a sobrancelha, murmurar um “Eu não disse?” e repisar que havia motivos para manter a guarda levantada.
Essa argumentação não pode ser usada agora com a mesma desenvoltura. Reina boa paz nos mercados e os analistas, que adoram prenunciar catástrofes, estão em silêncio; o prêmio de risco Brasil está em 154 pontos, seu menor nível histórico; o câmbio está encharcado de dólares; o Banco Central vai tendo de comprar até mais de US$ 1 bilhão por dia útil; e as reservas externas estão muito perto dos US$ 115 bilhões.
No sistema de metas, os juros são ajustados para garantir a inflação na meta, que neste ano é de 4,5%. Na calibragem a ser definida dia 18, o Copom terá de rever pelo menos duas variáveis.
A primeira é a cotação do dólar. Quanto mais barato, menor tende a ser a inflação futura porque os preços dos produtos importados (mais baixos em reais) tendem a segurar os reajustes. Na reunião passada, o Banco Central trabalhou com a cotação do dólar a R$ 2,10. Hoje, ela está à beira de furar os R$ 2,00. O Banco Central está diante de forte fator baixista.
A outra variável está relacionada com os preços administrados, que são reajustados de acordo com leis e contratos e não com o tamanho dos juros. Preços administrados pesam 31% no cestão do custo de vida e uma projeção correta desse item é essencial para avaliar o comportamento da inflação futura.
Hoje existem razões para acreditar em que o Banco Central está projetando com erro (para mais) a trajetória dos preços administrados. Suas últimas estimativas apontam para uma evolução de 4,5%, enquanto o mercado (tal como medido pelo próprio Banco Central) aponta 3,55%. É difícil hoje encontrar quem concorde com a projeção do Banco Central. Um ajuste nessa previsão para níveis mais realistas puxará a projeção da inflação.
Mais um fato novo: o IPCA, cuja evolução é a que conta para efeito de fixação dos juros, apontou, em março, uma evolução em 12 meses de 2,96%. A meta para o ano é 4,5% e os fazedores de preços projetam 3,86%, como atesta o Banco Central.
O presidente do Banco Central diz que a missão deste ano será considerada cumprida se a inflação ficar entre 2,5% e 6,5%, porque a meta é de 4,5% e o intervalo de tolerância é de 2%, tanto para cima como para baixo.
(Cá entre nós, é hora de rever essa moleza. Tolerância de 2% com inflação a 7% foi compreensível. Mas seguir com esses 2%, com inflação a 3%, é jogar de centroavante contra uma trave tão extensa quanto a grande área. É fácil marcar gol assim.)
É grande o desconforto com o dólar nos R$ 2. A cobrança por cortes mais fundos nos juros ficará mais forte. O Banco Central terá de garimpar justificativas.
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