Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 07, 2007

No reino dos mensaleiros


atahan@jb.com.br
No reino dos mensaleiros

Em meio a apagão aéreo, idas e vindas do presidente Lula, militares rebelados, comandantes irritados e tudo o mais, o acontecimento passou quase despercebido. O PP montou um time de primeira para administrar o partido: os deputados Paulo Maluf, Pedro Henry, o cassado Pedro Corrêa, o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti. Para gerir o cofre, ninguém menos do que o ex-deputado José Janene, aquele que se disse profundamente enfermo a tal ponto que não teve como prestar explicações ao Conselho de Ética no processo de perda de mandato por envolvimento com o mensalão. O mesmo que acabou absolvido em plenário por colegas solidários.

Janene respondeu a processo sob suspeita de se ter beneficiado de R$ 4 milhões do esquema de distribuição de dinheiro a parlamentares coordenado por Marcos Valério (lembram-se dele, o benemérito também do caixa do PT?). Como prêmio, agora vai gerir os R$ 8,2 milhões, a cota do PP no fundo partidário neste ano. Mensaleiro de quatro costados estará bem acompanhado dos colegas também receptores das benesses de Valério, Pedro Corrêa e Pedro Henry.

O primeiro Pedro presidia o partido. Foi um dos três que perderam o mandato durante o processo de caça a mensaleiros desferido pela Câmara. Os outros foram o ex-homem forte do PT e do governo, José Dirceu, e Roberto Jefferson, o dirigente do PTB que pôs a boca no trombone e denunciou a maracutaia. Corrêa foi condenado por autorizar um ex-asssessor do partido a sacar R$ 700 mil das contas de Valério.

O segundo Pedro foi absolvido pelo próprio Conselho de Ética. Foi acusado por Jefferson de ser um dos agenciadadores de mensaleiros na Câmara e por oferecer compensações a quem trocasse de partido para fortalecer a base do governo Lula.

Com uma profusão de nomes bíblicos na direção da legenda, Paulo Maluf não poderia ficar de fora da lista. Só para lembrar parte do seu currículo público, fiquemos nos acontecimentos mais recentes. Foi preso em 2005, acusado de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção e crime contra o sistema financeiro. Foi libertado porque o Supremo Tribunal Federal levou em consideração o fato de ter ultrapassado a faixa dos 70 anos de idade e estar debilitado. Apesar disso tudo, elegeu-se deputado federal e vai decidir sobre o futuro do PP.

E, agora, Severino Cavalcanti, o deputado que renunciou ao mandato mas acabou cassado pelos eleitores nas urnas do ano passado. Desistiu do gabinete em Brasília depois de denúncia de cobrança de propina de um empresário para prorrogar a concessão de um restaurante da Câmara.

Com uma escalação assim, o PP soma, no comando, o maior número de processos sob investigação das polícias e da Justiça do país. Mas não está nem aí para a torcida. "Não somos a palmatória do mundo, não", defende-se o líder do partido na Câmara, Mário Negromonte, um baiano arretado. "O PP fica com seus filiados na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, é um casamento político".

A História promove coincidências irônicas. Ao mesmo tempo que o PP reentronizava quadrilheiros, mensaleiros e corruptores, completava-se um ano do fim da CPI do Mensalão Ninguém foi preso, nenhum dos 40 denunciados pela Procuradoria-Geral da República virou réu em processos, e 14 autoridades comunicadas oficialmente pelo Senado ou nada fizeram ou sequer responderam. No Brasil das injustiças, os fatos se somam e permitem que a impunidade semeie frutos sem tempestades. Semeou o retorno dos maus ao comando do PP. Ara a terra de políticos de passado escuso e livres em várias legendas. Lavra o Congresso de infiéis. E torna a Política, cada vez mais, uma utopia.

07/ 04 / 2007

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