Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 07, 2007

DORA KRAMER De politização e manipulação

dora.kramer@grupoestado.com.br

O consenso de que a CPI do apagão aéreo sai mesmo é tão firme que surpresa agora será se por algum motivo ela não se instalar. Ou por decisão do Supremo Tribunal Federal ou por desistência da oposição de fazer o inquérito parlamentar por meio do Senado.

Diante do praticamente inevitável, nesta semana os líderes governistas radicalizaram no desespero de causa: como último recurso para evitar a investigação, tentaram aplicar o velho truque do perigo dos roncos da reação militar.

Procuraram a oposição e ponderaram que a instalação da CPI poderia dar margem a uma nova crise militar. As investigações talvez revelassem “fragilidades” da Aeronáutica que as Forças Armadas não gostariam de ver expostas em público.

A base governista está perdida. Dispõe de força numérica, mas, pela qualidade da estratégia agora adotada, parece que só tem tamanho. Se tivesse cérebro, perceberia a inadequação do argumento: falar em risco de crise porque a Aeronáutica não resistiria a uma investigação parlamentar significa pôr as Forças Armadas sob suspeição.

Quando o governo diz à oposição que a CPI poderia provocar revolta nos quartéis porque revelaria fatos desabonadores para uma das Forças, está automaticamente insinuando que os militares têm algo a esconder.

Fazem deles um escudo de proteção num embate de natureza político-partidária e atribuem a eles um receio que na verdade é do governo.

Quem não quer CPI é o Palácio do Planalto. Rememorar crises do passado para transferir essa posição às Forças Armadas é um erro de análise da realidade presente ou um sofisma eivado de má-fé.

Não há politização no trato da crise por parte dos militares. Não contestam o papel institucional nem a autoridade do presidente da República. Querem simplesmente ter os seus preceitos preservados.

Por ora, porque a depender do encaminhamento das coisas, realmente o bate-cabeça governista pode acabar provocando problemas de ordem institucional. Como ocorreu com o acréscimo de uma crise de relação Poder Executivo-poder militar à crise do setor aéreo.

A alegação de que a CPI politiza a crise é uma obviedade, pois a investigação é parlamentar. O problema não é CPI politizar a crise, mas os políticos quererem manipular a CPI.

Isso vale para o governo e sua mais recente manobra de jogar com o risco de reação militar, mas vale também para a oposição que depois de brigar tanto pela comissão está no mínimo obrigada a não dar espetáculo de quinta.

Insegurança no ar

Se o apagão total da sexta-feira 30 rendeu algum benefício foi a abertura da discussão sobre a segurança dos vôos, assunto até então tratado com certa inibição.

O Sindicato dos Aeronautas e da Federação Internacional de Associações de Controladores de Tráfego Aéreo abordaram questões importantes nesta semana.

A presidente dos aeronautas, Graziela Baggio, apontou a existência de um grave embate entre pilotos e controladores, assim detalhado pelo vice-presidente do sindicato, Gelson Fochesato: “O controlador não quer que o piloto se aproxime da pista e o piloto fala que tem que se aproximar porque o controlador está mentindo para ele. Os pilotos estão revoltados ao ponto de quererem ir direto para um conflito e passar a não obedecer mais aos controladores. Isso já não é mais segurança de vôo, é uma mentira”.

Sobre o plano de emergência da FAB, diz Marc Baumgartner, da Federação Internacional dos Controladores: “As armadilhas do sistema, problemas de radar e de rádio, ainda estão lá. A Aeronáutica não fez nada além de aquartelar e investigar os controladores. Usar militares da defesa aérea é a mesma coisa que colocar um carregador de bagagens ou uma atendente do check-in para pilotar um avião, eles não têm a menor idéia do que fazer, não foram treinados para isso. Já vimos essa história antes na França. Acabou em uma colisão aérea”.

Se os presidentes das entidades não foram irresponsáveis ao ponto de dizer o que disseram em função dos interesses das respectivas categorias profissionais, seus alertas são dignos de registro.

O figurino

A nomeação de um diplomata (Marcelo Baumbach) para o posto de porta-voz da Presidência da República repete modelo adotado - e aprovado - no governo Fernando Henrique.

Durante os oito anos de FH, os três porta-vozes foram diplomatas: Sérgio Amaral, Georges Lamazière e Alexandre Parola.

A idéia de pôr um diplomata na função foi baseada no atributo específico da atividade diplomática: a neutralidade no trato das questões do Estado, entre elas a comunicação.

O sentido da imparcialidade na forma de transmissão das notícias é fator de equilíbrio aos governos, sejam as novas boas ou más, mas principalmente se forem más.

O diplomata não cria atritos, não opina, não politiza, não aumenta nem diminui o tom, se atém ao conteúdo do recado, reporta-se à nação e ponto final.

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