Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 05, 2007

Míriam Leitão - O novo investidor



PANORAMA ECONÔMICO
O Globo
5/4/2007

A Bovespa comemorou ontem o recorde de participação do home broker - o investidor que, do seu computador, negocia ações na bolsa. Ele representa 7,57% do total, são R$10,5 bilhões no volume mensal. O que aconteceu com a bolsa brasileira entre 1994 e 2007 é impressionante: o volume diário negociado simplesmente aumentou 14 vezes. Hoje será feito o 12º IPO deste ano. Num mercado assim, manobras e informação privilegiada devem ser combatidas rigorosamente para que não se perca a credibilidade.

O lançamento de ações tem trazido de volta muitas empresas - dos mais variados setores - à bolsa. No ano passado, foram 26 IPOs. Este ano, mal começou abril, e já é quase metade de 2006.

Mesmo com esse retorno, o número de empresas listadas é hoje ainda bem menor que as 582 de 1994. A explicação está nos vários processos de fusão e incorporação dos últimos anos e também no próprio fato de muitas empresas terem decidido sair desse mercado. Como agora há espaço para captar, as empresas estão chegando novamente. São hoje 405.

De 2003 para cá, o Ibovespa, índice que é sempre o mais comentado, dobrou em reais e triplicou em dólares, o que já é um bom indício, mas cresceu muito também o volume médio diário de negócios da bolsa brasileira. Em 2003, ano de ressaca, é bem verdade, depois da crise de confiança de 2002, a média diária em reais foi de 818 milhões. A partir daí, cresceu 50% em 2004, 32% em 2005, mais 50% em 2006 e agora outros 46%. Resultado: o volume diário quadruplicou; está em R$3,5 bilhões. Em dólar, entre 2003 e 2007, ficou 6 vezes maior.

Quem vem puxando - e sustentando - este crescimento do investimento na Bovespa são os estrangeiros. A liquidez internacional ainda está muito alta, e eles acabaram buscando mercados diferenciados para manter o retorno de seus investimentos nestes anos que foram de juros baixos nas grandes economias. Têm investido pesado no país e aumentado sua presença. Desde 2005, são o grupo com maior participação nos investimentos, atualmente 34%. Depois deles, vêm os institucionais; seguidos dos pessoa física, com 25%. Ainda que a parcela dos pessoa física não tenha mudado muito desde 2000, o número absoluto é bem maior hoje, muito devido aos tais home brokers.

A Ágora foi pioneira neste mercado, no qual está desde 2001. Hoje operam através de seu site - que tem até uma espécie de canal de televisão com informações para os investidores - 35 mil pessoas mensalmente de todos os estados do país, com crescimento mensal de 20%. Por operação, cada investidor paga R$20. Por dia, tem gente que chega a efetuar 40 operações.

- É engraçado porque, para alguns, operar virou uma espécie de game. Vejo uma grande diferença no investidor hoje: ele não quer só uma dica de em qual empresa investir, ele quer ver balanço, gráfico, quer informações sobre o setor - conta Álvaro Bandeira, da Ágora, que conhece bem o mercado financeiro.

Esse novo investidor traz mais trabalho para a CVM. Atualmente, investir não é mais exclusividade de um grupo restrito: disseminou-se. Nas últimas semanas, duas aquisições que movimentaram o mercado - a compra da Ipiranga, por Ultra, Petrobras e Braskem, e a da Varig, pela Gol - chegaram ao conhecimento dos investidores sem que fosse através de comunicado da própria empresa. Quando sai pela imprensa, a informação está sendo divulgada para todos, mas quando só um grupo de espertinhos faz seu jogo na calada da informação, a punição tem que ser exemplar.

No momento, ambos os casos estão sendo apurados pela comissão, ainda sem data para respostas. A CVM está de olho tanto na responsabilidade das diretorias de relações com investidores, como na movimentação financeira. No caso da Gol, ainda não se identificou que algum investidor específico tenha se beneficiado. Se a punição não for rápida e pesada, o investidor menor, que foi trazido para a bolsa recentemente, pode ficar arisco. E essa é a hora de transformar a bolsa numa forma de capitalizar a empresa e democratizar o capital; a hora em que os juros estão caindo. Os deslizes agora não são mais toleráveis como já foram no passado.

Arquivo do blog