PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
11/4/2007 |
O Brasil vai, de novo, prorrogar a CPMF e a DRU. O filme é tão velho, caros leitores, que nem dá mais para criticar. Melhor só lamentar a incapacidade dos governos brasileiros de encontrar soluções permanentes para problemas velhos. É a cultura do gatilho, do truque, do contorno. O Brasil contorna os problemas; não os enfrenta. Recentemente, as empresas se mobilizaram em torno da Emenda 3. Isso porque não têm coragem de dizer que querem a reforma trabalhista. Em 1994, quando foi inventada, a CPMF era só uma forma de fazer uma ponte. Temia-se que, na virada para uma economia de inflação baixa, o governo fosse perder receita. Por isso, foi inventado um imposto com nome de contribuição e provisória. Agora ele pode ser renovado até 2010. A DRU é outro contorno: como a Constituição engessa demais as receitas, o governo federal não tem flexibilidade para dispor do dinheiro arrecadado para seus projetos e inventou que 20% do que já está destinado podem ser usados para outra coisa. Se abrir mão da CPMF, perde R$35 bilhões; se deixar de usar o mecanismo da DRU, fica sem R$26 bilhões. Então, o governo vai propor que tudo seja renovado para até o fim deste mandato. Ou mais. O pior é que este era o momento certo para o permanente. As situações externa e interna estão dando uma folga impressionante ao administrador público para que ele possa pensar em mudanças para ficar, em vez dos truques para contornar os problemas. A situação internacional está excepcionalmente boa. O mundo passa por um período de crescimento não visto nas últimas três décadas; dólares abundantes entram no país por força do comércio internacional, que tem crescido muito mais que o PIB mundial, numa média de 10% ao ano. As condições de solvência do Brasil são as melhores de que se tem notícia. Na segunda-feira, pela primeira vez, o risco-Brasil ficou abaixo do risco dos emergentes. Os analistas do mercado financeiro dizem que o investment grade é só uma questão de tempo. A oportunidade está posta. O país deveria aproveitá-la para criar as condições permanentes. Mas, provavelmente, vai de novo perder a chance. Será uma pena. Há distorções explícitas nas conjunturas nacional e internacional que mais cedo ou mais tarde cobrarão a conta. Em vez de reforma trabalhista, o governo Lula escolhe um ministro do Trabalho que chega avisando que está lá para distribuir os cargos com os aliados e que é contra qualquer reforma. A oposição e os empresários se juntam em torno de um eufemismo, por falta de coragem de dizer o que realmente precisa ser feito num país em que apenas 42% dos trabalhadores têm carteira assinada. Entre os demais trabalhadores, uma maioria está desprotegida, e um grupo seleto está entre os que têm contratos mais sofisticados de trabalho. Tanto para um quanto para outro grupo a legislação getulista é insuficiente e equivocada. Supondo proteger, desprotege cada vez mais gente. Supondo criar regras justas, engessa um mercado num mundo em constante mudança. A emenda 3 era apenas mais um jeitinho para liberalizar um pouco a lei, mas com o risco, detectado por alguns, entre eles a Organização Internacional do Trabalho, de desproteger ainda mais os mais desamparados dos trabalhadores. Os defensores da emenda dizem que isso não aconteceria, mas o fato é que um fiscal do trabalho que fosse visitar uma fazenda no Brasil profundo não poderia mais dizer que aquele trabalhador em condições subumanas estava efetivamente trabalhando para os donos daquele empreendimento. E ontem mesmo saiu a estatística: foram 583 os trabalhadores encontrados nessa condição nos três primeiros meses do ano. O melhor teria sido que todas as forças que se uniram - os dirigentes empresariais, políticos de vários partidos, oposição - lutassem pela bandeira certa: a reforma nas caducas leis trabalhistas brasileiras. Em vez de reforma da Previdência, um fórum que, se trabalhar direito, vai descobrir o que já sabemos: no Brasil, as regras de aposentadoria e de pensão são benéficas demais. No mundo, países mais ricos têm restrições que aqui consideramos inaceitáveis. E mais: que há uma massa excluída dos benefícios da Previdência. Por fim, que a Previdência já quebrou, sejam quais forem os truques contábeis que este governo utilize. Mas, mesmo trabalhando direito, o fórum vai apenas protelar o debate, como fez o Fórum da Reforma Trabalhista. O Brasil está perdendo novamente um momento de ouro. Em vez de reforma tributária, o ministro da Fazenda sugere mais desonerações tópicas. A intrincada legislação tributária consome mais que recursos dos trabalhadores e empresas formais; consome também tempo para entender e se proteger das armadilhas fiscais. Numa hora em que há várias boas notícias, em que a economia internacional está tão bem, em que existem tantos bons indicadores financeiros no país, em que há confiança do investidor interno e externo, em que a economia cresce, é o momento certo de propor o permanente. E o governo quer apenas mais um adiamento do provisório. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quarta-feira, abril 11, 2007
Míriam Leitão - Hora do permanente
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
abril
(465)
- Colunas
- Opinião
- REINALDO AZEVEDO MST -Não, eles não existem. Mesmo!
- CELIO BORJA Surto de intolerância
- DANUZA LEÃO Viva o futuro
- JANIO DE FREITAS Rios de dinheiro
- Miriam Leitão O ponto central
- DANIEL PIZA
- Escorregadas de Mantega
- Estados devem ser parte do alívio fiscal?
- O multilateralismo está superado?
- O êxito da agricultura brasileira
- Névoa moral sobre o Judiciário
- FERREIRA GULLAR
- ELIANE CANTANHÊDE
- CLÓVIS ROSSI
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Um ministério para Carlinhos
- DORA KRAMER Defender o indefensável
- AUGUSTO NUNES Sete Dias
- REINALDO AZEVEDO Autorias 1 – Quem escreveu o quê
- Miriam Leitão À moda da casa
- FERNANDO GABEIRA Um bagre no colo
- RUY CASTRO Emoções assassinas
- FERNANDO RODRIGUES Antiéticos
- CLÓVIS ROSSI O euro e os oráculos
- DORA KRAMER Ajoelhou, tem que rezar
- Descontrole e segurança
- Deboche à Nação
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: Valentim Gentil Filho
- Claudio de Moura Castro
- MILLÔR
- André Petry
- Roberto Pompeu de Toledo
- Diogo Mainardi
- PCC Mesmo preso, Marcola continua mandando
- A complicada situação do juiz Medina
- Por que os tucanos não fazem oposição
- Aécio e seu novo choque de gestão
- O Carrefour compra o Atacadão
- Rússia Morre Boris Ieltsin
- Itália A fusão do partido católico com o socialista
- França Diminui o fosso entre esquerda e direita
- O irmão do planeta Terra
- O pacote de Lula para salvar a educação
- O melhor município do país
- A conceitual cozinha espanhola
- Morales quer legalizar chibatadas
- Comprimido antibarriga liberado no Brasil
- Quimioterapia para idosos
- Educação As dez escolas campeãs do Distrito Federal
- A Toyota é a maior montadora do mundo
- Um cão para chamar de seu
- Um bicho diferente
- Os salários dos atores nas séries americanas
- Polêmica religiosa no seriado A Diarista
- Os problemas de visão dos impressionistas
- O herói que não perde a força
- Livros O lado esquecido de Carlos Lacerda
- Livros Fantasia póstuma
- A "judicialização" da mídia, o patíbulo e o pescoço
- Opinião
- Colunas
- FHC, PSDB, princípios e unidade
- Franklin confessa no Roda Viva
- Opinião
- Colunas
- Bingão legal
- Um governo de adversários
- Mangabeira da Alopra
- Opinião
- Colunas
- LULA É RECORDISTA EM PUBLICIDADE
- AUGUSTO NUNES
- Goebbels em cronologia
- Franklin no Roda Viva
- Opinião
- Colunas
- O imperador do lápis vermelho
- Eu digo "NÃO"
- AUGUSTO DE FRANCO E A LUZ NO FIM DO TÚNEL
- UM ENGOV, POR FAVOR!
- Defesa, sim; impunidade, não
- LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
- RUY CASTROVampiros de almas
- FERNANDO RODRIGUES Judiciário, o Poder mais atrasado
- Um samba para a Justiça
- Serra-Lula: a verdade
- DANUZA LEÃO Nosso pobre Rio de Janeiro
- Caso Mainard -Kenedy Alencar
- A decadentização da língua JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Miriam Leitão A segunda chance
- FERREIRA GULLAR Risco de vida
- ELIANE CANTANHÊDE Questão de afinidade
- CLÓVIS ROSSI Conservadores do quê?
- DANIEL PIZA
- China diversifica e olha para o Brasil
- Banco do Sul: uma idéia sem pé nem cabeça por Mail...
- CELSO MING Nova costura
- DORA KRAMER Interlocutores sem causas
-
▼
abril
(465)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA