A eleição municipal de 2008 terá, de novo, São Paulo como palco da disputa mais vistosa do País, laboratório de todas as análises prévias sobre o panorama da sucessão presidencial em 2010.
Desta vez, porém, a briga, digamos de foice no escuro, não contará apenas com o gentil patrocínio da tradicional contenda paulistana entre PT e PSDB. Servirá também de cenário a uma estrepitosa trombada entre os tucanos e os neodenominados democratas (ex-pefelistas) que, de resto, já começam a se estranhar pesadamente.
O PSDB dá demonstrações explícitas de que terá candidato próprio à prefeitura de São Paulo e não tem a menor intenção de cumprir o compromisso firmado pelo governador José Serra quando deixou a prefeitura para o vice, de apoiar Gilberto Kassab, cuja candidatura é tida como cláusula pétrea por onze entre dez caciques democratas.
O desembarque de Geraldo Alckmin semana passada em Brasília para ser o centro de uma homenagem do tucanato a ele confirma a impressão. Em princípio, a viagem de Alckmin que faz curso na Kennedy School, em Harvard, não estava prevista.
Ele deveria ficar em Boston direto até o meio do ano. Mas, quando sentiu que o clima por aqui estava esquisito, que sua candidatura (ou pelo menos a presunção dela) corria o risco de morrer de inanição, Alckmin providenciou uma visita.
Totalmente politizada. Falou em candidatura a prefeito, mas nem precisava dizer nada. A festa de “boas-vindas” promovida por seu partido na quarta-feira em Brasília falou por si.
Não fosse para dar uma demonstração de força e prestígio de seu candidato a presidente da República em 2006, o PSDB não precisaria ter feito a comemoração.
Afinal, Alckmin não voltou. Veio ao Brasil para marcar presença, não havia “vindas” a serem festejadas.
Os democratas, de seu canto, captaram a mensagem. Aliás, já vêm captando muitas outras. Acham que os tucanos proporcionam uma certa vida boa ao governo Lula porque, preocupados com seu projeto de poder imediato, não querem assumir brigas pesadas agora. Preferem deixar todas para o palanque futuro e hoje não são solidários na oposição.
Andam particularmente agastados com José Serra, a quem atribuem (eles e a torcida da seleção brasileira) o acerto do PSDB para eleger Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara, e em quem enxergam tendências esquerdistas demais para o gosto do marquês. Corre solta no partido a nítida impressão de que Serra acredita-se destinatário do apoio do PT em 2010.
Por via das dúvidas, já avisam: candidato paulista à sucessão presidencial por eles não passará. Um mineiro, talvez. Mas, por ora, é só um talvez.
Segurança nacional
Estão todos brincando com a vida das pessoas: controladores grevistas, governo abúlico, ministro da Defesa fora do prumo a cobrar paciência aos seis meses de crise do setor aéreo. As condições para um acidente grave estão dadas.
Rede de proteção
A base governista na Câmara não nutre esperanças. Tanto acredita que a decisão do Supremo Tribunal Federal daqui a um mês tende a ser favorável à instalação da CPI da crise aérea que já começou a se articular para ocupar com suas tropas a comissão.
A maioria acachapante deveria ser para o governo garantia suficiente de que a CPI não descambe para o campo do espetáculo e do exibicionismo circense.
Mas a maioria nada poderá fazer contra fatos negativos que porventura venham a aparecer e que mostrem algum tipo de dolo na administração do sistema de transporte aéreo, aí incluídas as obras de reformas em aeroportos.
Se o governo não tem nada a esconder, seus adversários não poderão inventar acusações. Se a oposição se comportar mal, as transmissões da TV Câmara se encarregarão de permitir que a opinião pública faça seu julgamento.
E ele será impiedoso com quem tentar tirar proveito político de um tema tão sensível à população.
Essa comissão tem um caráter diferente de outras que tratam de acusações a esta ou àquela autoridade: em princípio, não busca investigar malfeitorias de autores específicos, mas esclarecer as razões da degradação repentina de um serviço de utilidade pública.
Se a oposição manipular, vai se expor ao risco da desmoralização.
Mas isso só se o governo não tiver nada para esconder.
Dois pesos
O prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, telefonou ao deputado Clodovil Hernandez logo após a eleição e pôs à disposição dele uma ficha de filiação ao então PFL, agora Democratas.
Clodovil ficou de pensar. Mas César Maia, vice-presidente do partido autor da consulta ao Tribunal Superior Eleitoral que abriu espaço para os partidos cassarem os mandatos de quem trocar de legenda, não pensou nisso quando propôs ao deputado abandonar o PTC.
Mas, segundo César Maia, Clodovil, eleito por quase meio milhão de paulistas, está fora da regra porque obteve muito mais votos que o exigido pelo coeficiente eleitoral. Por esse raciocínio seria, sim, dono do próprio mandato.