Ontem, em Camp David, residência de campo da presidência dos Estados Unidos, os presidentes Bush e Lula avançaram na implantação do programa do etanol. Enquanto isso, poderosas forças, algumas delas antes antagônicas, convergem para tentar sabotar essa política.
O comandante-em-chefe cubano, Fidel Castro, não está sozinho no ataque ao programa do etanol (de Bush e Lula) por supostamente desviar alimentos para a produção de combustíveis e, assim, “matar de fome e de sede 3 bilhões de pessoas”.
Todos os dias, lobbies de todos os tamanhos se organizam com o mesmo objetivo. No Congresso americano, políticos ligados à avicultura, suinocultura e pecuárias de leite e corte vêm abrindo fogo contra a concessão de subsídios pelo governo americano aos produtores de milho, matéria-prima da qual os americanos obtêm o etanol.
Eles estão preocupados com a alta de mais de 70% dos preços do milho depois que o programa começou e, a partir daí, com o encarecimento das rações animais e, portanto, com o futuro do seu negócio.
De certo ponto de vista isso é bom para o Brasil, que, de uma hora para outra, encontrou aliados na luta contra o protecionismo agrícola dos Estados Unidos.
Mas ninguém se iluda. Neste momento, eventual encolhimento dos subsídios apenas reduziria a produção de milho, destine-se ele à alimentação ou à produção de etanol. E a redução da produção de milho nos Estados Unidos poderia colocar em risco todo o programa de substituição de derivados de petróleo por biocombustíveis.
No entanto, o argumento contra o etanol que mais sensibiliza a opinião pública é surpreendentemente o dos que evocam a preservação ambiental, em defesa da qual o próprio programa do álcool vai sendo justificado.
Nos Estados Unidos, ecologistas de vários coturnos tentam comprovar que apenas 20% do etanol americano corresponde a energia nova, porque a produção de milho em si mesma exige queima de combustíveis fósseis (diesel para os tratores, gás natural para produção de fertilizantes e, outra vez, diesel para transporte do etanol). É tão baixo o resultado líquido da troca de derivados de petróleo por etanol de milho, dizem eles, que o governo americano obteria mais sucesso se exigisse melhor regulagem da compressão dos motores e o emprego de pressão adequada dos pneus dos veículos.
Tanto americanos como europeus apegam-se a suposições para despejo de chumbo grosso contra o etanol produzido no Brasil a partir da cana-de-açúcar. Nesse mister, resvalam para o terrorismo ambiental.
Argumentam que as queimadas e a erradicação de florestas descarregam mais gás carbônico na atmosfera do que os canaviais conseguirão reciclar nos anos seguintes. Ou, como saiu no Guardian de Londres (dia 27), cada tonelada de biodiesel de óleo de palma (dendê) produz impacto climático dez vezes maior do que o diesel derivado de petróleo. Conclua-se que os programas de biocombustíveis devem ser sumariamente abandonados.
As propostas para que os países da União Européia só importem etanol e biodiesel com certificado contra abuso ambiental estão pipocando nos parlamentos. Como das outras vezes, essas escaramuças não passam de exercícios de protecionismo disfarçado que tentam defender os interesses dos produtores locais.
Embora quase sempre levem roupagem técnica, sua principal motivação é puramente política. Falta saber se o governo Lula está preparado para enfrentar essas pressões lá fora e também aqui dentro.
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