Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 17, 2007

Dora Kramer - Ao vosso reino, nada




O Estado de S. Paulo
17/4/2007

A Polícia Federal, que já vinha se sentindo subtraída no balanço de deveres e haveres com o governo, agora tem mais um motivo para acreditar que está sendo tratada na base do venha a nós, ao vosso reino, nada, e se empenhar na cobrança do cumprimento do acordo por aumento de 60% feito em fevereiro do ano passado sob a chancela do então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.Informado de que a instalação da CPI do Apagão Aéreo é inevitável na Câmara - pois o Supremo Tribunal Federal tende a confirmar, no julgamento do mérito da ação, a liminar já concedida em favor da CPI -, o presidente Luiz Inácio da Silva pediu ao sucessor de Thomaz Bastos, Tarso Genro, que solicite à PF a abertura de investigações sobre a Infraero.A motivação do gesto é óbvia: tentar criar um novo argumento contra a CPI, mais uma vez usando a Polícia Federal para evitar investigações de caráter político no âmbito parlamentar, sob a alegação de que o governo, por intermédio da PF, já tomou as providências necessárias.Durante todo o primeiro mandato de Lula e até na campanha eleitoral, com o caso do dossiê antitucano (cujas investigações resultaram em coisa alguma), a PF foi prestativa na matéria. O governo usou - e por vezes abusou - as operações policiais como peça de propaganda de sua disposição de combater a corrupção sem a necessidade de interferência do Congresso.

Desta vez, no entanto, os policiais federais podem não se mostrar tão dispostos a prestar o serviço de salvar o governo de mais uma enrascada política se continuarem sendo ignorados em suas reivindicações salariais.A primeira parcela do acordo de 60%, feito para ser pago em duas vezes, foi quitada no ano passado. Os 30% restantes deveriam ter sido saldados em dezembro, mas, até agora, nada de pagamento e nem sinal de negociações.Duas reuniões marcadas na semana passada com o ministério do planejamento para discutir o assunto foram adiadas sem explicações convincentes. Enquanto isso, a PF vem se mantendo em estado de greve latente, promovendo paralisações de 24 horas em advertência e mobilizando os funcionários administrativos da polícia em adesão ao movimento.Não é absurdo nem exagero pensar que os policiais façam um certo corpo mole diante da nova solicitação. Até porque o pedido de investigação sobre irregularidades na Infraero não deve ter caráter de urgência, a contar pela argumentação utilizada até agora pelo governo em relação à empresa administradora dos aeroportos brasileiros.O Planalto vem afirmando que as ações do Tribunal de Contas e da Corregedoria-Geral da União (CGU) são mais que suficientes para dar conta das suspeitas sobre contratos para as obras de reformas nos aeroportos.Se é assim, o apelo à PF nesta altura em que não uma, mas duas comissões de inquérito podem ser criadas no Congresso só pode ter o objetivo de simular dinamismo investigativo para tentar esvaziar as comissões parlamentares.Afoiteza

O deputado petista Cândido Vaccarezza chegou à Câmara em seu primeiro mandato federal ávido por ocupar espaços. Levou um contravapor dos companheiros de bancada, mas continua se achando dono de poderes ilimitados.A última de Vaccarezza foi imaginar que a condição de destacado combatente da tropa de choque do PT paulista lhe conferia a prerrogativa de escalar os integrantes da CPI do Apagão Aéreo e “vetou” a participação de Fernando Gabeira.Gabeira vai estar na CPI. E por indicação do partido dele, o PV. Como convém ao regimento.

De camarote

Favorável em tese ao fim da reeleição, o Democratas (ex-PFL) vai guardar distância regulamentar da corrente articulação PT-PSDB para revogar a emenda aprovada em 1997, vê-se agora, com o único intuito de dar a Fernando Henrique Cardoso a oportunidade de um segundo mandato.O presidente do partido, deputado Rodrigo Maia, aceita discutir o tema em outro momento e com objetivo diferente daquele que mobiliza agora tucanos e petistas.“Não vamos nos envolver numa manobra casuística, muito menos vamos pôr o partido a serviço de um plano eleitoral do presidente Lula, seja ele qual for, e de um arranjo interno do PSDB”, diz Rodrigo Maia. Na opinião dele, quando se trata de oportunismo, cada um deve cuidar do seu.

O ralo

O governo federal está no momento com duas grandes campanhas publicitárias no ar: da Caixa Econômica Federal e do Banco Central.Ambas têm como foco o uso de moedas, mas cada uma vai numa direção: na da Caixa, estimula-se o cidadão a guardar as redondas no cofrinho. Na do BC, o incentivo é ao uso delas, o máximo possível, em substituição às notas.Noves fora, uma mensagem anula a outra. E o contribuinte, que paga a conta das campanhas, não entende se a publicidade oficial quer induzi-lo a poupar, a gastar ou se o problema é falta de estratégia de atuação mesmo.

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